sexta-feira, 8 de julho de 2016

Mãe só atrapalha

É comum a gente ouvir e até presenciar que filho quando está com a mãe fica mais manhoso, mais birrento, dá uma regredida e não faz a menor questão de colaborar com o árduo processo civilizatório.

Meu caminho normal depois de uma frase dessa seria investigar os porquês. Mas não, dessa vez será diferente. Deixemos dessa frescura de porquês e reflexões, esses blábláblás todos e passemos às soluções. Bom, se a criança fica manhosa e birrenta na presença da mãe, a solução é muito simples: afaste-a da mãe!

Pronto. Caso encerrado. Boa noite.



Só que não, né? Simplesmente porque ao contrário da maioria, maioria, maioria das pessoas, meu filho não admite ser separado de mim. Ou me mostra que quem não admite sou eu, mas, enfim, não rola. Ele chora, chora aquele choro de cantinhos da boca pra baixo, lágrimas escorrendo devagar por um rostinho contorcido. Não se pode duvidar da razão daquela dor, como aprendi com meu amado Gil. Eu poderia até dizer que não tenho coragem de passar por cima disso, mas acabo de me dar conta de que é o contrário! Quando eu identifico uma dor no Joaquim, meu ser se enche de toda a coragem do mundo pra fazer o que for preciso para protegê-lo dela. Eu não sou o tipo de covarde que abandona meu filho ao próprio choro quando ele me estende os bracinhos e diz que quer ficar comigo. E não venha me dizer que "ele precisa aprender" isso ou aquilo às custas de dor e abandono. Não foi assim quando ele era um recém nascido, não foi assim quando ele era um bebê e continuará não sendo assim agora que ele é uma grande e autônoma pessoa de três anos. Mais tarde a gente volta a falar sobre isso, mas pelo rumo que as coisas estão tomando, acho pouco provável que eu mude essa estratégia tão cedo...

A essa altura você deve estar aí pensando: "ah, mas é claro que ele vai ficar manhoso! Ele sabe que você tem coração mole!".

Pois saiba que o Joaquim não fica manhoso e birrento de forma gritante e evidente só pela magia da minha presença. Ao contrário: quando está comigo ele se sente seguro e amparado, ele fica em paz.

Só que não adianta explicar isso pras pessoas que gerenciam os lugares onde as crianças são separadas das mães. A regra é clara - tão clara quanto burra, burra como toda regra geral que tenta-se aplicar aos seres humanos, simplesmente porque cada ser humano é um universo em si, diverso de qualquer vizinho e, portanto, absolutamente impossível de se aplicar regras gerais. E onde há burrice não há diálogo. Estou aqui, no auge da minha fúria, chamando de burrice o comodismo de proibir ao invés de educar; o comodismo de proibir ao invés de dialogar; o comodismo de se iludir com regras gerais e fechar os olhos pras particularidades de cada ser humano.

Essa fúria deve-se ao profundo sentimento de abandono, solidão e desamparo que senti quando fui convidada a me retirar daquele lugar onde habitualmente separam crianças de mães. Eu achei que por se tratar de uma "atividade de férias" a rigidez fosse deixada de lado, mas me enganei redondamente. Eu era uma mãe precisando que me ajudassem a mostrar pro Joaquim que ele pode confiar em outros adultos, que além dos quatro ou cinco que ele confia podem existir outros. Mas de fato não seria ali que encontraríamos esses adultos... como pude ser tão ingênua? Onde não há diálogo, não há confiança.

Pois bem, esse tipo de episódio me põe na categoria de minoria, e ser minoria dói, simplesmente porque a solidão dói. Mas ainda prefiro a dor de me reconhecer como sou do que a dor de querer ser e não ter coragem de ser. E na verdade não se trata de preferir, não é uma escolha. É o único caminho possível.

Só me resta soltar aqui esse uivo solitário nessa noite fria.

E não ousem me separar do meu filho!


quinta-feira, 7 de julho de 2016

Acessibilidade para crianças

Desde que tenho me envolvido com o "mundo materno" tenho visto movimentos muito lindos de humanização (ou naturalização?) do parto, de apoio à amamentação, de apoio às mães puérperas, de respeito às necessidades da criança, enfim, pequenos grandes passos em direção a relações mais harmônicas e respeitosas, à construção de um mundo mais amoroso. Vou dando aqui minhas contribuições reflexivas e a de hoje é de ordem bem prática: como anda a acessibilidade para crianças e seus cuidadores nos locais públicos?

Tenho a impressão inclusive que estou criando um termo! Alô CREA, será que acessibilidade infantil vira também requisito pra aprovação de plantas e afins?! Brincadeira... cada vez mais eu acho que não dá pra viver à mercê de leis, a responsabilidade é de cada um e cada um de nós pode fazer diferente, mesmo que isso não esteja nos manuais e protocolos.

Pois bem, vamos aos tópicos:

- Banquinho pra alcançar a pia: senhores proprietários, gerentes e responsáveis por restaurantes e qualquer lugar que tenha um banheiro que pode vir a ser usado por uma criança pequena, por favor, olhem pra isso! É um investimento baixíssimo (tão baixo como o banquinho, rs...) e que faz uma diferença danada pra coluna da mãe ou pai ou quem quer que seja que vá ajudar a criança a lavar as mãos. E faz uma diferença pra criança também, que tem sua autonomia valorizada, que se sente acolhida (vou falar sobre isso no final). Acho curioso ninguém ter se atentado a isso, pois muitos dos lugares que frequento tem trocadores, tem "espaço kids", mas não tem o bendito banquinho! Ou sou só eu que sinto falta do aparato?!

- Assento pra privada: eu não sei qual o fascínio que banheiros de restaurantes exercem, mas o Joaquim frequentemente pede pra fazer cocô! E lá vou eu, naquele banheirinho apertado, ficar agachada segurando ele, ou mesmo em pé, mas ele detesta quando eu fico em pé, enfim, é sempre desconfortável pra ambos. Da mesma forma que o banquinho, é um investimento muito pequeno, mas que faria taaaaaaanta diferença nas vidas de crianças pequenas e acompanhantes de crianças pequenas!

- Corrimão em altura de criança: mais uma vez a autonomia da criança. Não é porque uma criança pequena SEMPRE estará acompanhada de um adulto, que não podemos fornecer a elas elementos para que possam cuidar da sua segurança. Claro que quem me chamou a atenção pra isso foi o Joaquim, que fica muito feliz quando encontra uma escada com corrimão na altura dele!

- Utensílios adequados: quase todo restaurante tem cadeirão de alimentação, mas raríssimos tem pratos, talheres e copos adequados pras crianças. Não precisa ser nada muito especial, inclusive, aqui em casa usamos os utensílios de sobremesa e o Joaquim bebe em copo de vidro há bastante tempo, mas tem vezes que o garçom esquece até de colocar prato pra ele na mesa do restaurante! Bem, aí a questão não é nem ter o utensílio, mas ter um olhar atencioso e saber que criança também é gente, rs... Mas quando o garçom traz um pratinho colorido ele fica tão, mas tão feliz... Outro detalhe besta é o canudinho. Eu não gosto de canudinho, acho um desperdício de plástico, mas o Joaquim ama. E só depois que ele começou a gostar de canudinho eu fui entender a função daqueles que são flexíveis. Na altura de uma criança em relação à mesa e com aqueles copos altos, ela VAI TER QUE dobrar o canudinho pra conseguir colocar na boca! O canudinho sanfonado faz TODA a diferença...

- Brinquedos: eu sempre fui adepta do "criança brinca com qualquer coisa", "o melhor brinquedo é a criatividade", mas é impressionante como a simples presença de qualquer porcariazinha de plástico colorido entrete a criança! E vamos e venhamos... por mais que a gente tenha uma mesa inclusiva, o papo de adulto vai rolar e a criança vai ficar com aquela sensação horrível de estar entre estrangeiros e não entender direito (ou nada!) a língua. Ah, não adianta dizer pra levar brinquedo de casa... não, eles se tornam automaticamente completamente desinteressantes quando estão passeando! Pode ser também alguns livrinhos, uma caixinha de giz de cera com folhas em branco (em branco, please...). São pequenos cuidados que não tiram a criança do ambiente (como iPads e cia, que me entristecem profundamente, mas confesso que até por aqui já apelamos pro celular na mão do Joaquim, só pra poder terminar o jantar em paz...). Esses cuidados acolhem, deixam a criança mais confortável (e os pais também, claro).

O que mais?! Do que você sente falta quando sai de casa com seu filho? Há algo que os donos de estabelecimentos poderiam fazer para que vocês se sintam mais confortáveis e acolhidos?!

E ser acolhido é de fato o mais importante, que vai muito, muito além de qualquer bugiganga, é aquela coisa que não tem preço. Quem me chama o olhar pra isso é sempre o Joaquim e as crianças com quem convivo. Eles ficam tão, mas tão felizes quando veem que algo foi preparado especialmente pra eles! Isso não é mimar, isso não é "infantocracia". Observe com olhos atentos e honestos: o que nos ambientes que você frequenta inclui as crianças? O que foi especialmente preparado para que uma criança use e o que foi especialmente preparado para que um adulto use?

Muito tem se falado em "adultização precoce". Claro, eu quero estar incluída no ambiente em que vivo! E se pra isso eu tenho que crescer rápido, vamo que vamo!

Valorizar a infância, cuidar da infância é cuidar das relações, mas é cuidar também do ambiente. Do ambiente em casa e dos ambientes que frequentamos.