quinta-feira, 7 de julho de 2016

Acessibilidade para crianças

Desde que tenho me envolvido com o "mundo materno" tenho visto movimentos muito lindos de humanização (ou naturalização?) do parto, de apoio à amamentação, de apoio às mães puérperas, de respeito às necessidades da criança, enfim, pequenos grandes passos em direção a relações mais harmônicas e respeitosas, à construção de um mundo mais amoroso. Vou dando aqui minhas contribuições reflexivas e a de hoje é de ordem bem prática: como anda a acessibilidade para crianças e seus cuidadores nos locais públicos?

Tenho a impressão inclusive que estou criando um termo! Alô CREA, será que acessibilidade infantil vira também requisito pra aprovação de plantas e afins?! Brincadeira... cada vez mais eu acho que não dá pra viver à mercê de leis, a responsabilidade é de cada um e cada um de nós pode fazer diferente, mesmo que isso não esteja nos manuais e protocolos.

Pois bem, vamos aos tópicos:

- Banquinho pra alcançar a pia: senhores proprietários, gerentes e responsáveis por restaurantes e qualquer lugar que tenha um banheiro que pode vir a ser usado por uma criança pequena, por favor, olhem pra isso! É um investimento baixíssimo (tão baixo como o banquinho, rs...) e que faz uma diferença danada pra coluna da mãe ou pai ou quem quer que seja que vá ajudar a criança a lavar as mãos. E faz uma diferença pra criança também, que tem sua autonomia valorizada, que se sente acolhida (vou falar sobre isso no final). Acho curioso ninguém ter se atentado a isso, pois muitos dos lugares que frequento tem trocadores, tem "espaço kids", mas não tem o bendito banquinho! Ou sou só eu que sinto falta do aparato?!

- Assento pra privada: eu não sei qual o fascínio que banheiros de restaurantes exercem, mas o Joaquim frequentemente pede pra fazer cocô! E lá vou eu, naquele banheirinho apertado, ficar agachada segurando ele, ou mesmo em pé, mas ele detesta quando eu fico em pé, enfim, é sempre desconfortável pra ambos. Da mesma forma que o banquinho, é um investimento muito pequeno, mas que faria taaaaaaanta diferença nas vidas de crianças pequenas e acompanhantes de crianças pequenas!

- Corrimão em altura de criança: mais uma vez a autonomia da criança. Não é porque uma criança pequena SEMPRE estará acompanhada de um adulto, que não podemos fornecer a elas elementos para que possam cuidar da sua segurança. Claro que quem me chamou a atenção pra isso foi o Joaquim, que fica muito feliz quando encontra uma escada com corrimão na altura dele!

- Utensílios adequados: quase todo restaurante tem cadeirão de alimentação, mas raríssimos tem pratos, talheres e copos adequados pras crianças. Não precisa ser nada muito especial, inclusive, aqui em casa usamos os utensílios de sobremesa e o Joaquim bebe em copo de vidro há bastante tempo, mas tem vezes que o garçom esquece até de colocar prato pra ele na mesa do restaurante! Bem, aí a questão não é nem ter o utensílio, mas ter um olhar atencioso e saber que criança também é gente, rs... Mas quando o garçom traz um pratinho colorido ele fica tão, mas tão feliz... Outro detalhe besta é o canudinho. Eu não gosto de canudinho, acho um desperdício de plástico, mas o Joaquim ama. E só depois que ele começou a gostar de canudinho eu fui entender a função daqueles que são flexíveis. Na altura de uma criança em relação à mesa e com aqueles copos altos, ela VAI TER QUE dobrar o canudinho pra conseguir colocar na boca! O canudinho sanfonado faz TODA a diferença...

- Brinquedos: eu sempre fui adepta do "criança brinca com qualquer coisa", "o melhor brinquedo é a criatividade", mas é impressionante como a simples presença de qualquer porcariazinha de plástico colorido entrete a criança! E vamos e venhamos... por mais que a gente tenha uma mesa inclusiva, o papo de adulto vai rolar e a criança vai ficar com aquela sensação horrível de estar entre estrangeiros e não entender direito (ou nada!) a língua. Ah, não adianta dizer pra levar brinquedo de casa... não, eles se tornam automaticamente completamente desinteressantes quando estão passeando! Pode ser também alguns livrinhos, uma caixinha de giz de cera com folhas em branco (em branco, please...). São pequenos cuidados que não tiram a criança do ambiente (como iPads e cia, que me entristecem profundamente, mas confesso que até por aqui já apelamos pro celular na mão do Joaquim, só pra poder terminar o jantar em paz...). Esses cuidados acolhem, deixam a criança mais confortável (e os pais também, claro).

O que mais?! Do que você sente falta quando sai de casa com seu filho? Há algo que os donos de estabelecimentos poderiam fazer para que vocês se sintam mais confortáveis e acolhidos?!

E ser acolhido é de fato o mais importante, que vai muito, muito além de qualquer bugiganga, é aquela coisa que não tem preço. Quem me chama o olhar pra isso é sempre o Joaquim e as crianças com quem convivo. Eles ficam tão, mas tão felizes quando veem que algo foi preparado especialmente pra eles! Isso não é mimar, isso não é "infantocracia". Observe com olhos atentos e honestos: o que nos ambientes que você frequenta inclui as crianças? O que foi especialmente preparado para que uma criança use e o que foi especialmente preparado para que um adulto use?

Muito tem se falado em "adultização precoce". Claro, eu quero estar incluída no ambiente em que vivo! E se pra isso eu tenho que crescer rápido, vamo que vamo!

Valorizar a infância, cuidar da infância é cuidar das relações, mas é cuidar também do ambiente. Do ambiente em casa e dos ambientes que frequentamos.

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