domingo, 27 de setembro de 2015

Joaquim, você cresceu! Vem crescendo, claro, desde que nasceu, mas de uns dias pra cá você cresceu tanto, virou "menino grande". Dispensou o cadeirão e come na cadeira normal; anda fazendo xixi na terra e já estreou a privadinha.

Tem um andar decidido, principalmente quando tem outras crianças por perto. Se forem meninos grandes então, você parece um bad boy, com gingado e tudo!

Fico muito feliz com essa evolução toda, mas de repente percebo que você quase não fica mais no meu colo... então aproveito quando você dorme. Te abraço e faço carinho à vontade. E aproveito cada segundo do caminho entre o carro e sua cama, quando você chega em casa dormindo. Você pesadão no meu colo, todo largado... ai que saudade!!!

Te amo demais moleque!

Por quê?!?!

Ou melhor, "Pu quê?!"

Joaquim mergulhou de cabeça e está nadando de braçada na famosa fase dos porquês. TU-DO que a gente fala ele emenda num "Pu quê?!".

Tenho feito um delicioso exercício de presença ao ouvir seus questionamentos e não tenho a menor vontade de falar "Porque sim" ou "Porque não". Na grande maioria das vezes eu devolvo a pergunta (outro dia o Paulo Cesar disse que leu num livro do Osho que uma pergunta respondida é uma pobreza - ou algo assim, não me recordo das palavras exatas).

Então quando eu o chamo pra tomar banho e ele pergunta "pu quê?!" eu respondo "Por que será que a gente precisa tomar banho?". Eu não espero uma resposta dele. Em muitos casos ele fica quieto, vai fazer outra coisa, meio que matutando sobre a minha resposta-pergunta. Outras vezes ele insiste: "Pu quê?!". Algumas vezes eu dou continuidade, meio que respondendo, meio que perguntando, tentando não explicar, mas geralmente é inevitável. De qualquer forma, tento não bombardear a cabeça dele com grandes explicações e a coisa logo se resolve.

Às vezes solto um convincente "não sei" e é infalível. Desde que seja honesto, claro. Me sinto tão leve assumindo um "não sei"! O que não tem nada a ver com porque sim/porque não,  sinta a diferença.

Embora eu me canse um pouco, acho divertido e tenho conseguido não responder com impaciência. Na verdade uso essas insistentes interrogações pra checar em mim meus porquês mais profundos.

Por isso as respostas que mais tenho gostado de dar são:

"Porque eu gosto"
"Porque estou com vontade"
"Porque alegra meu coração" (essa eu uso em situações escolhidas a dedo. Não quero banalizar o coração, rs...)

Uso essas respostas na terceira pessoa também. "Pu que o papai foi tabalhá?!". Nada dessa coisa de ganhar dinheiro, não consigo. Ele foi porque gosta! E pronto, não precisa de mais explicação (não porque eu não queira dar, mas simplesmente porque o "pu quê?!" não surge desse tipo de resposta).

Tenho aprendido assim a valorizar meus gostos, minhas vontades e meu coração - e os dos outros também. E quando estou em dúvida sobre alguma decisão, ouço aquela vozinha doce me perguntando "pu quê?!" e então só vou em frente se for por gosto, por vontade ou por alegrar meu coração.

Cada vez mais tenho sentido como as obrigações são inúteis e doloridas e tenho sentido vislumbres maravilhosos de liberdade. Mas isso é assunto pra outro texto...


terça-feira, 15 de setembro de 2015

Quem ama cuida

Esses dias eu estava prestando atenção numas letras de músicas infantis de um CD com temática ambiental. No começo achei bonitinho, engraçado, mas logo veio aquele cutucão, aquele impulso interno que não me abandona e que não me deixa levar nada - ou quase nada - superficialmente.

Aquelas letras eram simplesmente apavorantes!

Pinguins preocupados com suas geleiras derretendo; o nível do mar vai aumentar tanto que vai transbordar. E a mensagem: "por isso é importante a gente preservar", aconselhando que não devemos queimar as florestas nem jogar lixo no chão e devemos cuidar dos animais. Desculpa pessoal, sei que a intenção é das melhores, mas ta tudo desencontrado...

Aí tem outra que fala do lobo guará: "se não cuidar, pode se acabar". Gente, socorro! Eu quase chorei ouvindo essa música e lembrando do lobo guará, com aquelas pernonas compridas e cara de bonzinho. Me fala, pelamordedeus, como é que eu cuido do lobo guará?!?! "Preservar a Mata Atlântica e o Cerrado, denunciar desmatamentos e queimadas, monocultura também não está com nada". Como é que uma criança faz isso? Você pode até falar que a criança vai falar pro pai fazer, mas será que adianta? Será que é esse o caminho?

Tenho impressão que com essas mensagens, na melhor das hipóteses, a criança não vai entender nada... mas se entender vai ficar apavorada! Consciente ou inconscientemente...

Ando às voltas com a educação de forma geral, e agora chegou a vez de olhar pra educação ambiental, essa vertente que tanto me atraiu na faculdade de engenharia florestal, mas que nunca consegui aplicar nem aprofundar.

Essa reflexão me lembrou de algumas orientações antroposóficas sobre como apresentar o mundo pras crianças e acho que a educação ambiental seria muito feliz se se baseasse em três metas muito simples. Nos primeiros 7 anos a mensagem deve ser "o mundo é bom". A criança pequena precisa se sentir segura, precisa ter conforto, precisa de coisas de qualidade (comida, roupas, brinquedos, músicas... e por qualidade entenda-se "quanto mais natural melhor"). Enfim, em cada gesto, em cada objeto, a criança deve receber essa sensação de que o mundo é bom! Nessa fase, pros educadores ambientais (e pais) eu sugeriria incursões cautelosas à natureza. Prezando sempre pelo conforto, nada de perrengues nem coisas radicais. Passeios que transmitam a mensagem "é BOM estar na natureza". Experimentar frutas gostosas, colhidas no pé... sentir o frescor da água num dia quente, sentir o calor do sol num dia frio, brincar com texturas (areia, terra, folhas secas...).

Entre os 7 e os 14 anos a mensagem é que "o mundo é belo". Aqui, em termos de educação ambiental da pra nadar de braçada! Desde pequenas flores no jardim até pores do sol arrebatadores, mesmo que exijam alguma caminhada. Paisagens naturais em geral. Não é difícil encontrar o belo na natureza.

Dos 14 aos 21 anos a mensagem é que "o mundo é justo". Devo dizer que ainda não li esse capítulo, então se você está lidando com "crianças" dessa fase, corra e me conte!

E agora me fale: quando a gente apresenta pra uma criança, até mesmo pra um adolescente, que animais estão ameaçados de extinção?! Que águas estão poluídas? Aquecimento global? Isso é bom? É bonito? É justo?!

Assim como na minha reflexão sobre a escassez de água, volto a insistir que esse é um problema nosso, não deles. A educação ambiental deveria se concentrar em mostrar as belezas da natureza. E ponto! Quem ama cuida!