segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Chorou, passa pra mãe! Ou não...

Sabe aquela frase célebre de tia? "Ter sobrinho é ótimo, porque você aproveita a parte boa e se chora é só devolver pra mãe!" Ultimamente tenho matutado sobre criação compartilhada (não sei se o termo existe, já já volto nele) e um episódio de hoje me fez repensar essa frase, essa coisa de "se chorar é só chamar a mãe".

Estamos aqui em casa lidando com gripes, febre e tosses há uma semana. Primeiro o pai, depois o filho e por último a mãe (que bom que a gente reveza!). Tive uma noite de sábado com pouco descanso, passei o domingo fracota, tive febre, coisa que há muito não acontecia, dormi mal de ontem pra hoje. O Joaquim ainda não está 100% e demanda com suas manhas.

Pois bem, fui deixá-lo na minha mãe, coisa que faço toda segunda à tarde. Fiquei lá um tempo, ele estava manhoso, esperei ele ficar bem e saí.

Passei no supermercado e quando estava vindo pra casa pra finalmente descansar um pouco, recebo uma mensagem da minha mãe, dizendo que o Joaquim estava chorando e que ela ia trazê-lo pra mim.

NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!!!

Liguei pra ela e falei que eu precisava da ajuda dela, que eu estava cansada e que ela precisava dar conta do Joaquim. Em outros tempos eu diria "ok", pensando "o filho é meu, eu que preciso cuidar dele". Aí ele chegaria, eu estaria cansada, ficaria mais cansada, teria uma paciência nula e seria pior pra nós dois (e pro pai também, que chegaria em casa no meio de um caos). Isso já aconteceu algumas vezes...

Hoje precisei dessa gripona, com febre e tudo, pra entender que sim, o filho é meu, mas não, eu não tenho que cuidar dele sozinha, eu não sou a única responsável por ele!

Eu já ultrapassei limites pra não incomodar o pai, que estava trabalhando, coisa que não faço, logo, pensava eu, o mínimo que tenho que fazer é dar conta da casa e da criança! E isso me serviu pra entender que ultrapassar esse tipo de limite só serve pra rever nossos (pre)conceitos e resolver contratar uma empregada, ou coisas do tipo, ou seja, não é aquela sensação de superação "eu consigo!". É a sensação de "caramba, eu não consigo MESMO!".

Depois disso eu já pedi arrego pro pai, pra não incomodar a vó, afinal, o filho é nosso, a gente que cuida. Hoje eu poderia ter feito isso. Mas por um instante de lucidez, não fiz! (um dia espero poder aprender essas grandes lições sem precisar de gripe, febre, choro...).

E aí me volta uma frase da Laura Gutman que me intriga desde muito antes de ficar grávida: "uma mãe e um pai não são suficientes pra criar um filho".

Claro que não são! Vai precisar de vó, de vô, de tia, de madrinha, de amigo. Até de médico! E se não puder contar com essas "ajudas" vai ter que terceirizar: babá, creche, escola, televisão, tablet... (estamos em campo polêmico e é aqui mesmo que quero estar. Se isso te cutuca é pelo simples fato de que você acaba de constatar que uma mãe e um pai não são suficientes pra criar um filho! E com essa constatação você pode ter mais clareza da rede na qual vem se apoiando pra criar seu filho, ou melhor: da rede que você vem tecendo pra criar seu filho. Porque o papel de mãe e pai não é assumir TODA a responsabilidade pela criança, mas sim tecer uma rede que a ampare).

Então eu chego em casa e posso finalmente descansar. Mas me pego pensando "Será que o Joaquim ficou bem?", "Será que eu ligo pra saber como ele está?", "Se ele tivesse dormido minha mãe me avisaria... por que ainda não avisou?!", "Tadinho, como eu sou insensível! Eu deveria ir lá buscá-lo!".

Vi que não conseguiria descansar com isso tudo martelando e ao mesmo tempo não tinha forças pra ir lá buscá-lo. Resolvi escrever!

Essa coisa de confiar na minha capacidade de tecer uma rede pra amparar meu filho (e a mim, em última análise) foi me acalmando. A minha mãe é a pessoa no mundo (depois do pai, é claro), que mais confio pra cuidar do Joaquim. Por tudo que ela é e pela proximidade que temos, pela convivência, porque o Joaquim fica muito à vontade com ela. Então, com o que me preocupar?

Pode ser que o Joaquim sofra um pouco... só que antes agora do que mais tarde. E se sofrer agora é porque não fui capaz de passar essa confiança antes. Paciência. Precisei de alguns tropeços pra ter essa clareza, mas agora que ela chegou, o que quero é ensinar pro Joaquim que ele está seguro com quem eu - ou o pai - designar que ele esteja. E eu sei que logo ele vai ter discernimento pra escolher com quem ele se sente seguro, mas num primeiro momento tenho que dar uma forçada de barra, pra romper o "vício" (é uma palavra forte, mas tenho visto ultimamente que mãe vicia! Eu tenho sido super apegada com o Joaquim e isso certamente acabou gerando esse vício. Não me culpo por isso, na verdade ainda acho melhor assim do que o contrário, mas avaliando em retrospecto vejo que me faltou essa confiança na rede; e não só confiança, mas merecimento também; ou reconhecimento de que é necessário e natural e não "folga"; ou ainda, essa compreensão mais ampla do que são os papeis de mãe e pai).

E por falar em rede e pra não deixar em aberto o termo "criação compartilhada", nem sei se ele é necessário, porque toda criação é, de alguma forma, compartilhada. A questão é ter consciência de com quem compartilhamos. A questão é assumir esse papel de mãe ou pai enquanto aqueles que escolhem com quem compartilhar, sabendo que compartilhar ou não não é uma escolha!

Sei que às vezes parece que a gente não tem escolha. Você tem um emprego, precisa desse salário, fica grávida, tira licença. E quando acaba a licença?! Ou mesmo enquanto está de licença... quem cuida de um recém nascido sozinha?! Mesmo que o pai seja um cara bacaníssimo, os dois não dão conta. Não é pra dar... vocês já começaram a tecer essa rede de alguma forma...

Mas só pra não deixar em total desamparo quem se sente sem escolha, acho que o maior barato de ter filho é que eles viram a gente do avesso. Filho vem pra balançar tudo o que a gente acredita, filho vem pra nos mostrar que todo aquele nosso planejamento agora não serve mais, filho vem pra nos revelar novas habilidades que nem sabíamos que tínhamos. A única coisa que precisamos fazer é deixar, soltar. Não o filho, a nós mesmas. Quando a gente se deixa, se permite, se solta, se abre, as possibilidades se apresentam e então podemos escolher. Enquanto estivermos presas em nossas velhas e enrijecidas formas de pensar e agir, não existem possibilidades e sem possibilidades não existem escolhas.

(isso serve desde o parto, quando literalmente precisamos soltar e abrir. Na época eu não consegui. Estava presa em minhas certezas... e serve também pra amamentação, quando também precisamos soltar, deixar fluir, deixar jorrar! Essa eu consegui, e que alegria ter sido merecedora dessa paz! E é um aprendizado constante. É preciso estar atento e forte. Não dá pra dizer "agora eu sei". A grande sabedoria é saber que a gente nunca sabe!).


PS - enquanto eu escrevia minha mãe mandou uma mensagem dizendo que o Joaquim tinha dormido. Ufa!

PS2 - jamais insista em ficar com uma criança chorando sem que a mãe saiba, ou sem que isso tenha sido combinado! Por exemplo, você pode não comunicar a mãe que a criança está chorando se o acordo tiver sido "fique com ele mesmo que ele chore e se chorar não me avise!". E nesse caso, não julgue... apenas conheça seus próprios limites, porque ficar com uma criança chorando é dose! E se não tiver combinado nada, avise da seguinte forma: "Fulaninho está chorando, posso ficar mais com ele e fazer alguma coisa para acalmá-lo, tudo bem?". Ou se você não é capaz de lidar com criança chorando diga logo de cara, antes da mãe sair "Eu fico com ele, mas se ele chorar vou ter que te chamar!". Tudo fica tão mais fácil quando está claro... o que não significa que não possamos tatear no escuro... mas com a clareza de que está escuro!

PS3 - mães, confiem! Confiem no seu discernimento de escolher com quem deixar seus filhos. Tenha consciência, escolha e deixe. Faça os combinados necessários, e deixe. Nada disso impede que você volte atrás ou ligue pra saber como está... mas tome um chá antes... se passar, passou. E intuição de mãe é muito forte. Se for algo realmente necessário, você vai saber, antes mesmo do chá. Como saber se é intuição ou se é insegurança? Escolhendo com consciência. Sabendo que você pode escolher, saindo do lugar de vítima, assumindo suas escolhas.

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Quero fazer uma atualização! Fomos buscar o Joaquim e ele estava ótimo. Jantamos lá todos juntos e quando eu estava aqui em casa, na cama com ele agorinha esperando ele dormir tive uma sensação muito forte de que pra ele é muito importante saber que ele pode contar com as pessoas! Antes era assim: "putz, se eu não fico bem aqui, a única coisa que pode me salvar é minha mãe aparecer!". E agora ele pôde sentir "minha vó é capaz de me dar o que eu preciso, existe mais uma pessoa no mundo com quem eu posso contar". Gente, vocês tem noção da importância disso?!?! E nós, mães que achamos que temos que dar conta de tudo sozinhas, privamos nossos filhos de ter com quem contar. Cruzes!


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

mas é um simples futebol!


Esses dias levei o Joaquim pra ver um treino de futebol (faz parte da minha atenção pra proporcionar "televisão ao vivo", mas isso é outra história...).

Durante os poucos minutos que ficamos lá (lembrar disso quando for escrever sobre televisão ao vivo) dois garotos me chamaram a atenção. Eles não corriam, interagiam muito pouco com a bola e com os colegas, o professor nunca direcionava suas orientações a eles. Não tem jeito, as minorias, os que "fogem aos padrões", chamam a minha atenção e foquei nesses dois garotos.

Por que eles tinham ações tão diferentes dos demais?  Eu comecei a ver inclusive uma tensão nesses meninos, uma solidão, aquilo foi me dando um aperto.

Como fazer pra que eles interagissem mais? Como cuidar pra que um simples futebol seja mais inclusivo? O que faltava àquele professor que ele não enxergava o que eu enxergava ou, se enxergava, porque ele não fazia nada?

A resposta é, a princípio, muito simples: esses dois garotos eram os goleiros!

E aí, quem topa um futebol sem goleiro?!



domingo, 27 de setembro de 2015

Joaquim, você cresceu! Vem crescendo, claro, desde que nasceu, mas de uns dias pra cá você cresceu tanto, virou "menino grande". Dispensou o cadeirão e come na cadeira normal; anda fazendo xixi na terra e já estreou a privadinha.

Tem um andar decidido, principalmente quando tem outras crianças por perto. Se forem meninos grandes então, você parece um bad boy, com gingado e tudo!

Fico muito feliz com essa evolução toda, mas de repente percebo que você quase não fica mais no meu colo... então aproveito quando você dorme. Te abraço e faço carinho à vontade. E aproveito cada segundo do caminho entre o carro e sua cama, quando você chega em casa dormindo. Você pesadão no meu colo, todo largado... ai que saudade!!!

Te amo demais moleque!

Por quê?!?!

Ou melhor, "Pu quê?!"

Joaquim mergulhou de cabeça e está nadando de braçada na famosa fase dos porquês. TU-DO que a gente fala ele emenda num "Pu quê?!".

Tenho feito um delicioso exercício de presença ao ouvir seus questionamentos e não tenho a menor vontade de falar "Porque sim" ou "Porque não". Na grande maioria das vezes eu devolvo a pergunta (outro dia o Paulo Cesar disse que leu num livro do Osho que uma pergunta respondida é uma pobreza - ou algo assim, não me recordo das palavras exatas).

Então quando eu o chamo pra tomar banho e ele pergunta "pu quê?!" eu respondo "Por que será que a gente precisa tomar banho?". Eu não espero uma resposta dele. Em muitos casos ele fica quieto, vai fazer outra coisa, meio que matutando sobre a minha resposta-pergunta. Outras vezes ele insiste: "Pu quê?!". Algumas vezes eu dou continuidade, meio que respondendo, meio que perguntando, tentando não explicar, mas geralmente é inevitável. De qualquer forma, tento não bombardear a cabeça dele com grandes explicações e a coisa logo se resolve.

Às vezes solto um convincente "não sei" e é infalível. Desde que seja honesto, claro. Me sinto tão leve assumindo um "não sei"! O que não tem nada a ver com porque sim/porque não,  sinta a diferença.

Embora eu me canse um pouco, acho divertido e tenho conseguido não responder com impaciência. Na verdade uso essas insistentes interrogações pra checar em mim meus porquês mais profundos.

Por isso as respostas que mais tenho gostado de dar são:

"Porque eu gosto"
"Porque estou com vontade"
"Porque alegra meu coração" (essa eu uso em situações escolhidas a dedo. Não quero banalizar o coração, rs...)

Uso essas respostas na terceira pessoa também. "Pu que o papai foi tabalhá?!". Nada dessa coisa de ganhar dinheiro, não consigo. Ele foi porque gosta! E pronto, não precisa de mais explicação (não porque eu não queira dar, mas simplesmente porque o "pu quê?!" não surge desse tipo de resposta).

Tenho aprendido assim a valorizar meus gostos, minhas vontades e meu coração - e os dos outros também. E quando estou em dúvida sobre alguma decisão, ouço aquela vozinha doce me perguntando "pu quê?!" e então só vou em frente se for por gosto, por vontade ou por alegrar meu coração.

Cada vez mais tenho sentido como as obrigações são inúteis e doloridas e tenho sentido vislumbres maravilhosos de liberdade. Mas isso é assunto pra outro texto...


terça-feira, 15 de setembro de 2015

Quem ama cuida

Esses dias eu estava prestando atenção numas letras de músicas infantis de um CD com temática ambiental. No começo achei bonitinho, engraçado, mas logo veio aquele cutucão, aquele impulso interno que não me abandona e que não me deixa levar nada - ou quase nada - superficialmente.

Aquelas letras eram simplesmente apavorantes!

Pinguins preocupados com suas geleiras derretendo; o nível do mar vai aumentar tanto que vai transbordar. E a mensagem: "por isso é importante a gente preservar", aconselhando que não devemos queimar as florestas nem jogar lixo no chão e devemos cuidar dos animais. Desculpa pessoal, sei que a intenção é das melhores, mas ta tudo desencontrado...

Aí tem outra que fala do lobo guará: "se não cuidar, pode se acabar". Gente, socorro! Eu quase chorei ouvindo essa música e lembrando do lobo guará, com aquelas pernonas compridas e cara de bonzinho. Me fala, pelamordedeus, como é que eu cuido do lobo guará?!?! "Preservar a Mata Atlântica e o Cerrado, denunciar desmatamentos e queimadas, monocultura também não está com nada". Como é que uma criança faz isso? Você pode até falar que a criança vai falar pro pai fazer, mas será que adianta? Será que é esse o caminho?

Tenho impressão que com essas mensagens, na melhor das hipóteses, a criança não vai entender nada... mas se entender vai ficar apavorada! Consciente ou inconscientemente...

Ando às voltas com a educação de forma geral, e agora chegou a vez de olhar pra educação ambiental, essa vertente que tanto me atraiu na faculdade de engenharia florestal, mas que nunca consegui aplicar nem aprofundar.

Essa reflexão me lembrou de algumas orientações antroposóficas sobre como apresentar o mundo pras crianças e acho que a educação ambiental seria muito feliz se se baseasse em três metas muito simples. Nos primeiros 7 anos a mensagem deve ser "o mundo é bom". A criança pequena precisa se sentir segura, precisa ter conforto, precisa de coisas de qualidade (comida, roupas, brinquedos, músicas... e por qualidade entenda-se "quanto mais natural melhor"). Enfim, em cada gesto, em cada objeto, a criança deve receber essa sensação de que o mundo é bom! Nessa fase, pros educadores ambientais (e pais) eu sugeriria incursões cautelosas à natureza. Prezando sempre pelo conforto, nada de perrengues nem coisas radicais. Passeios que transmitam a mensagem "é BOM estar na natureza". Experimentar frutas gostosas, colhidas no pé... sentir o frescor da água num dia quente, sentir o calor do sol num dia frio, brincar com texturas (areia, terra, folhas secas...).

Entre os 7 e os 14 anos a mensagem é que "o mundo é belo". Aqui, em termos de educação ambiental da pra nadar de braçada! Desde pequenas flores no jardim até pores do sol arrebatadores, mesmo que exijam alguma caminhada. Paisagens naturais em geral. Não é difícil encontrar o belo na natureza.

Dos 14 aos 21 anos a mensagem é que "o mundo é justo". Devo dizer que ainda não li esse capítulo, então se você está lidando com "crianças" dessa fase, corra e me conte!

E agora me fale: quando a gente apresenta pra uma criança, até mesmo pra um adolescente, que animais estão ameaçados de extinção?! Que águas estão poluídas? Aquecimento global? Isso é bom? É bonito? É justo?!

Assim como na minha reflexão sobre a escassez de água, volto a insistir que esse é um problema nosso, não deles. A educação ambiental deveria se concentrar em mostrar as belezas da natureza. E ponto! Quem ama cuida!

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Essa sua calma me irrita!!!

Certamente você já se viu nessa situação: por algum motivo ficou muito bravo, muito irritado, elevou o tom de voz, marinando isso tudo em lágrimas, enquanto o espectador da cena mantinha-se impassível, ousando até a pedir calma, coisa que agravava ainda mais o quadro e invariavelmente fazia o vulcão explodir de vez. Como assim pedir calma?!?! Ou a pessoa não entendeu a gravidade da situação, ou tá tirando com a minha cara!

Pois é exatamente isso o que acontece quando uma criança pequena faz birra e a gente tenta acalmá-la... a teoria não é minha, mas do Dr. Harvey Karp, autor dos livros/DVDs "O bebê mais feliz do pedaço" e "A criança mais feliz do pedaço", cujos quais recomendo fortemente!!!

Pra mim foi mais fácil aplicar as teorias relacionadas a bebês, especialmente recém nascidos. As teorias pra crianças pequenas me pareceram um tanto quanto teatrais e não me considero boa atriz... mas esses dias baixou uma Fernanda Torres aqui e consegui entrar na cena do Joaquim. Foi INACREDITÁVEL!!!

Cena 1: Joaquim assistindo videos de tratores no you tube, pelo tablet, amarradão (sim, de vez em quando ele assiste, também sou humana!)
Cena 2: acaba a bateria do tablet e a mamãe calmamente explica que precisa ficar na tomada carregando e consequentemente não dava mais pra assistir (fora isso ele já tinha ficado uns 20 minutos e foi minha deixa pra encerrar de vez a sessão junk do dia)
Cena 3: adivinha?! Berros, sapateados, criança deitada no chão batendo mãos e pés e gritando. Isso mesmo, um clássico!
Cena 4: mamãe tenta explicar que precisa carregar e não dá pra assistir, blablabla. Óbvio que só piora...
Cena 5: eis que entra a Fernanda Torres (adoro! e dizem que sou parecida com ela, rs...) e começa a falar um pouco alto, um pouco rápido, muito preocupada, com olhos arregalados. Repetindo o que tinha acontecido: ah não, acabou a bateriiiiiiiia!!! Poxa vida, agora precisa carregaaaaaaar!!! E agora, e agora?!
Cena 5: Joaquim soluçando, olhos arregalados, prestando total atenção no que eu estava falando e aos poucos se acalmando.
Cena 6: muda-se o cenário, apresenta-se um brinquedo esquecido e o tablet ficou pra trás... paz. Simples assim!

Dizem que funciona entre adultos também...


sexta-feira, 1 de maio de 2015

Brincadeira e trabalho

A reflexão da vez é sobre brincadeira. Sobre a qualidade do brincar que proporcionamos às nossas crianças, mas mais ainda sobre como lidamos com a brincadeira enquanto adultos.

Brincar é humano e enquanto formos humanos precisaremos brincar!

Na infância a brincadeira molda, desenvolve, dá asas e dá chão. No adulto a brincadeira vitaliza, limpa (adoro a expressão "de alma lavada" - brincadeira lava a alma!). A brincadeira surge da criatividade ao mesmo tempo que a alimenta. Isso é vitalidade, um crescente contínuo onde não há um final, tudo é transformação.

Brincadeira é criatividade e criatividade só aflora em liberdade.

Pra criança liberdade é simplesmente a não interferência do adulto. Longe de ser negligência ou abandono. É não interferir cuidando, protegendo (super proteção não existe... se perde a medida vira sufocamento, é preciso estar atento e forte...). Deixar rolar. Dar tempo. Ah, o tempo! Claro que em algum momento o adulto poderá/deverá intervir, justamente pra manter o cuidado e a proteção, mas tenha em mente que a limitação do tempo é sua, não da criança. Tempo: quanto mais, melhor. Pro adulto liberdade é fazer porque gosta e não porque "tem que entregar amanhã". Liberdade é fazer como gosta e não do jeito que leu no manual, que o chefe mandou, que apareceu na TV, que está na moda. Mas, antes disso, liberdade é escolher os combinados que vai assinar embaixo. O combinado não sai caro...

Criança brinca, adulto trabalha. E se fosse o contrário?

E se levássemos a brincadeira da criança tão a sério quanto levamos nossos compromissos profissionais?

E se levássemos nossos trabalhos com a leveza de uma brincadeira, com a criatividade de uma brincadeira, com o prazer de uma brincadeira?

Só que provavelmente fomos uma criança desrespeitada em seu brincar. Em maior ou menor grau certamente fomos (não culpe seus pais, por favor! Isso não vai ajudar em nada...). E agora, enquanto adultos, quando adquirimos independência sobre nossos atos, quando podemos exercitar o brincar da forma mais livre que existe, quando nós que fazemos todas as regras, quando finalmente podemos mandar e desmandar nos nossos horários e ritmos e idas-e-vindas, quando podemos brincar com fogo e com faca, aí nos deparamos com outras regras, com outras hierarquias, com novos horários e aquela criança que fomos, aquela criança desrespeitada em seu brincar, surge com acessos de birra e choradeira. Ou quem você acha que está se manifestando toda vez que você sofre ao olhar pro relógio na hora que ele desperta? Ou quem você acha que resmunga na hora que chega um e-mail do "chefe" cobrando o trabalho?

Enquanto essa criança estiver se sentindo lesada em seu direito de brincar o adulto não conseguirá brincar em paz.

E não tem blá-blá-blá que resolva. Haja terapia. Haja olhar pra dentro, haja olhar pra trás. Haja consciência. Haja perdão.

A magia é que as crianças são muito generosas, as crianças sabem retribuir. Basta um olhar atencioso e amoroso que a manha começa a se dissolver. Isso funciona com crianças em tamanho de criança e com crianças em corpos de adultos.

Mas por outro lado não é só culpa da criança carente o desconforto com o despertador. Existe sim uma questão biológica, uma questão de humanidade. Por que tivemos que nos organizar de uma forma completamente desumana?

Por que aceitamos pagar esse preço? Em troca de uma segurança ilusória, de um conforto ilusório, de uma previsibilidade ilusória... não vou me atrever a responder essa questão. Não sei como isso começou, mas sei que não está dando certo.

Criança vai pra escola, adulto trabalha.

Não importa onde vive. Não importa em que fase da vida está, o adulto trabalha 8 ou 10 horas por dia, no mínimo. E pior: trabalho é trabalho, família é família e diversão é diversão. Isso não é biológico!

Mas o segredo "que eles não sabem" é que se conseguirmos voltar - na verdade não há volta, a questão não é linear - mas se conseguirmos retomar um ritmo humano, certamente seremos mais produtivos. Não produtivos no sentido de apertar mais parafusos para fabricar mais carros para dar mais dinheiro a uma ou duas pessoas enquanto continuamos a andar de ônibus lotado. Seremos mais criativos, seremos mais felizes, pelo simples fato de que "gente nasceu pra brilhar", a natureza é próspera, Vida quer Vida.

Viver de forma anti-humana não é viver, é sobreviver. Até quando?



Criança - Adulto
Brincadeira - Trabalho
(brincadeira sem qualidade, brincadeira enlatada - trabalho sem prazer, trabalho por obrigação)
Escola - Trabalho
(preparação para o trabalho - constatação de que aquela preparação só atrapalhou)

.
.
.

V.I.D.A
S.E.R H.U.M.A.N.O

(sem dicotomia, sem regra fixa, respeito aos ritmos biológicos, valorização das relações)



sexta-feira, 3 de abril de 2015

Nossa primeira festa de aniversário!

Quando Joaquim fez um ano fizemos uma festa modesta. Um jantar no próprio dia, durante a semana, com poucas pessoas. Foi muito especial, foi bonito, foi suave. Acho que combinou com a comemoração de um ano.

Agora, com dois anos, deu vontade de fazer uma festa, de ver bastante criança, enfeitar a casa.

Escolhemos a casa da vovó Cris e do vovô Ed, que tem um quintal muito especial. Não deu pra escapar das águas de março e a castigada grama virou um woodstock infantil... um sucesso!

Teve até piscina de bolinhas! Teve até fotógrafo profissional!

(o Fábio, ou Fabinho, como sempre o chamei, é amigo de longa data. Nos conhecemos quando ele começou a namorar minha amiga Gisele, lá pelos idos do extinto "primeiro colegial". O namoro firmou, eles casaram e veio o Matheus, que nasceu no mesmo dia do Joaquim, ou melhor, o Joaquim nasceu no mesmo dia dele, mas três anos depois!)

Teve comidinhas simples: torta de liquidificador, milho cozido, salgadinhos encomendados pra facilitar a vida. Tudo vegetariano!


E teve também descartáveis chiquérrimos que trouxemos da Holanda, garimpados pela tia Ana, que dá um jeito de se fazer presente, até quando está do outro lado do oceano! (sobre descartáveis podemos conversar outra hora, rs...)

Os convidados levaram frutas e sucos, sem açúcar. Aliás, esse não foi convidado.

O docinho era de tapioca com leite de coco e geleia de morango sem açúcar (aquela da Queensberry, sabe?). Foi invenção minha, que depois o Paulo Cesar batizou: Nuvem de Tapioca com Lambidas de Geleia! Um toque gourmetizador, rs...


O bolo, ou melhor os bolos, eram de banana, com uva passa, aveia, linhaça, castanha do pará e avelã. Sim, vegano e sem açúcar. O convidado do mal continuou de fora (não tenho nada contra leite e ovo, mas gosto de maneirar. Do mal mesmo só o pó branco... mesmo quando vem disfarçado de marrom...).

Chegamos de viagem na segunda-feira pra fazer a festa acontecer no sábado, ou seja, corrido! Não tive tempo de ir atrás de grandes produções, mas pra deixar os bolos mais "apresentáveis" polvilhei cacau em pó e joguei umas bolinhas de flocos de arroz, ideia que tive no dia da festa, na hora de sair de casa com toda a tralha! Foi só pra enfeitar mesmo, afinal, festa precisa de enfeite! E enfeite não precisa ser de açúcar nem ter corante... e também não precisa dar muito trabalho.

Dois anos, dois bolos! Não foi de caso pensado, é que eu só tinha essas duas formas mesmo, rs... as velas também apareceram literalmente na última hora, reaproveitadas do aniversário do vovô Ed. Eu não queria o número 2, encanei que queria as duas unidades.

Pra criançada se divertir, fora a piscina de bolinhas, tinha uma parede forrada com papel e caixinhas de giz de cera.




Tinha muita bola, carrinhos, caminhões.


As meninas levaram suas bonecas, como que se preparando pra vida de mãe que sai com o filho pendurado... mas teve muito pai disposto a ajudar!






Na decoração bolonas de papel de seda que a vovó Cris fez. Eu tinha planejado mais coisa, mas a chuva e o cronograma apertado não deixaram... fica pra próxima.




Agradeço demais a todos que foram! Agradeço à minha mãe e ao Edmilson por terem cedido a casa e o fim de semana, trabalhando com alegria antes, durante e depois da festa!

Peço desculpa aos amigos que não pudemos convidar, pois o espaço era limitado e tivemos que priorizar as famílias com crianças, afinal, foi uma festa de criança e pra criança, mas nisso um monte de amigo super querido acabou ficando de fora... a próxima festa será pra vocês!


De qualquer forma, aquele convite que fiz no começo do ano, para que os amigos nos visitem mais, continua de pé! Festa é muito bom, mas em festa a gente não fica junto de fato. Deu mais saudade de cada pessoa que foi, deu mais vontade de estar junto, de conversar, sem pressa. Como faz?

Precisa de atenção, precisa de energia, precisa romper a inércia, precisa até ser um pouco cara de pau. Parece que a gente anda com muito receio de incomodar o outro, quando na verdade seria um grande agrado. Pra fazer uma visita inventamos que tem que mandar uma mensagem, um email, fazer um telefonema, combinar com três meses de antecedência. Chega disso! Colaê!

Outra coisa que pensei, agora filosofando a festa: acho que festa dá tanto trabalho e é tão cansativa porque temos cada vez menos amigos "de casa". Aquele amigo que abre a geladeira e se vira, que sabe onde tem mais copo, que sabe onde fica o pano de chão. Juntando isso ao fato de que geralmente estamos já tão cansados da rotina normal da semana que quando tem uma festa queremos simplesmente usufruir, não queremos "compromisso" e achamos o máximo ter uma comidinha boa pronta e não ter que lavar a louça.

Pra primeira constatação, façamos mais amigos "de casa"; sejamos mais amigos "de casa". Vamos fazer com que as pessoas se sintam à vontade nas nossas casas! E pra exercitar isso basta ter mais amigos em casa ;)

Já pra segunda, talvez não seja tão fácil, mas precisamos de semanas menos cansativas. Precisamos nos doar menos pro trabalho e mais pras relações com as pessoas queridas. Que tal ao invés de trabalhar pra pagar o buffet, trabalhar menos durante a semana e ter disposição pra fazer uma festa? E ter disposição pra ajudar a amiga a fazer a festa?

Eu sonho com festas colaborativas, festas comunitárias, festas orgânicas, festas autogeridas!

Em tempo: isso aqui não é indireta nem direta pra ninguém! São reflexões pessoais que gosto de compartilhar. Sinto em mim a necessidade de sair um pouco do controle, de abrir mão de algumas expectativas, abrindo assim espaço para que a participação ocorra.

Nessa festa considero que dei um ou dois passos importantes e facilitou demais não ser na minha casa, rs... ah, apego! Mas quero abrir mais as portas da minha casa. Quero por em prática essas constatações, quero ter mais amigos "de casa". Vem?

quinta-feira, 19 de março de 2015

Pode ou não pode?!

Foi numa dinâmica de um grupo muito querido e ainda anônimo que me deparei com uma amarra bastante incômoda: pode ou não pode?

A atividade foi claramente explicada. Os combinados eram simples. No entanto, em diversos momentos a pergunta "isso pode?" vinha à minha mente. Na dúvida, eu não agia. Na dúvida, eu julgava (Fulano tá fazendo isso. Será que pode?).

Percebi então o número de vezes que meu filho de 2 anos me pergunta se pode. O engraçado é que ele fica perguntando até eu falar que pode, rs...

Mas fiquei preocupada, incomodada, envergonhada, culpada - essas coisas todas que as mães ficam - ao constatar a presença constante do "pode ou não pode" na nossa vida.

Motivada também por outras conversas e acontecimentos recentes, comecei a matutar sobre a educação, as regras, as exceções... e, por enquanto, começo a desconfiar que uma educação baseada em respeito e presença não tem regras nem exceções, tem situações.

Não é fácil, mas quem disse que seria?!

Ao desenvolver esse pensamento logo me veio a imagem da Justiça, vendada, coitada. Coitada dela, que tem que resolver tudo com os olhos fechados, e coitados de nós, que ficamos à mercê de regras únicas aplicadas a situações absolutamente diversas.

Certamente que a vida em sociedade, ou mesmo a vida em comunidade, precisa de acordos, precisa de combinados. A diferença entre um combinado e uma regra é que o combinado é negociável. Ou melhor: o combinado é negociado.

- Vamos fazer assim?
- Hum, assim não dá, que tal assado?
- Legal, pode ser!

... passam-se dias...

- Oi, vamos fazer assado?
- Ah, hoje não dá, é melhor fazer assim
- Beleza!

... ou ainda...

- Vamos fazer assim?
- Não quero, que tal assado?
- Ah, não gosto... que tal assim-assado?
- Ok!

Como saber quando é assim ou assado ou assim-assado? Con-ver-san-do. Como explicar que um dia precisa ser assim e outro dia precisa ser assado? Não precisa! Não precisa explicar! Se a decisão é pautada em respeito e presença não há com que se preocupar, a situação explica por si!

Chegamos então ao ponto chave: manter a presença, agir com respeito.

Tirar a venda dos olhos. É preciso estar atento e forte!

Num primeiro momento pode parecer mais difícil, inseguro, subjetivo. Mas difícil e desgastante é sustentar uma situação que não contempla o respeito. Inseguro e subjetivo é deixar a presença de lado e delegar a responsabilidade às regras, manuais e todo tipo de pode, não pode, tem que.

Lembrete para quem for aplicar essa teoria mágica e transformadora no trato com crianças:
A criança é mais frágil que o adulto, a criança é mais sensível que o adulto, a criança é um ser em formação, a criança tem menor poder de abstração, pra criança não existe o que foi e o que será, PORTANTO, Dona Justiça, além de tirar a venda dos olhos, peço gentilmente que solte também essa balança! Os pesos e medidas SÃO diferentes quando lidamos com adultos e crianças. A criança precisa de mais respeito, mais atenção, mais cuidado, do que o adulto. Isso não é mimo, isso é ter consciência das premissas básicas citadas acima. Quando digo "mais respeito" entenda o seguinte: se alguém precisa abrir mão de alguma coisa, esse alguém deve ser o adulto.

"Ah, então tem que fazer TUDO-O-QUE a criança quiser?!"

Não! Enquanto adultos temos a grande responsabilidade de sermos cuidadores, guardiões. Por exemplo, Joaquim pede pra comer doces e eu não deixo. A-há, então não pode?! Não... não é adequado. Comer açúcar não é bom pra ele (um dia ele vai comer, tenho certeza, mas o que importa é o agora e agora não é hora...).

E aqui o que faz diferença não é tanto o fato em si, mas o como. Como contornar um doce? Com aspereza e repreensão? Não, com doçura!!! Se a criança pede doce, ela quer doçura...

Pronto, Dona Justiça, deixe cair também essa espada... ou você nunca viu ninguém compartilhar no Facebook que Gentileza gera Gentileza?!

Vamos parar de associar força a arma. Força a símbolo fálico.

A força da Justiça não está na espada. A força da Justiça está no olhar.



(tentei milhares de vezes incluir aqui uma imagem da Justiça, mas o Blogger não colaborou!!! Faça um favor: digite "justiça" no Google Imagens, rs... eu sei que você a conhece, mas vê-la agora terá outra força...)


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Dias se passaram, mais um encontro do grupo citado acima aconteceu e nele veio um complemento importante pra essa ideia. Se, por um lado, a Presença e o Respeito resolvem muito do "pode/não pode", por outro, avaliar e decidir tudo em tempo real acaba se tornando cansativo e pode ainda trazer uma atmosfera de insegurança - "fiz isso, o que será que vai acontecer agora?". Dessa forma, alguns acordos e combinados básicos precisam ser estabelecidos para que não fiquemos perdendo tempo - e energia!!! - com detalhes operacionais, por assim dizer.

Exemplo: a clássica, famosa, indefectível disputa de brinquedos entre crianças. Me diga você, mãe que frequenta parquinhos e afins, qual a cena infalível? Duas crianças começam a disputar, correm as duas mães e cada uma fala pro seu filho: "solta o brinquedo! Deixa ele brincar". O dono do brinquedo ouve que precisa emprestar, dividir como amiguinho; o não-dono do brinquedo ouve que aquele brinquedo não é dele e não deve pegar do outro. Agora imagine do ponto de vista da criança. Você é a criança dona do brinquedo: ouviu da mamãe que precisa emprestar pro amiguinho. Agora você foi lá ver o brinquedo do amiguinho, a mesma cena se repete, só que aí você ouve da mamãe que não pode pegar o brinquedo que não é seu. Peraí mano, tem alguma coisa errada!!!

Pra evitar essa confusão existe uma regra básica de convivência que é: quem pegou o brinquedo primeiro fica com o brinquedo. Se isso for explicado de maneira clara pras crianças e se todos os adultos estiverem atentos pra ver quem pegou primeiro e aplicarem o mesmo combinado, existe grandes chances de que a paz acene.

Na prática pode não ser tão simples, porque existe um apego com os brinquedos próprios. Isso funciona muito bem quando ninguém é "dono" do brinquedo.

Mas eu não falei que a regra iria resolver sua vida! A regra facilita em alguns momentos, mas não podemos abrir mão do respeito e da presença.

De qualquer forma, não sou a favor de forçar ninguém a emprestar nada. Não é assim que se aprende a dividir, não é assim que se aprende desapego.

Também não sou a favor de formar seres "bonzinhos". Não tem nada de errado com a criança que não quer emprestar! Ela não está sendo egoísta, não está querendo magoar o outro, está apenas sendo sincera com os sentimentos e desejos dela.

Também não vejo nada de errado com a criança que se encanta com o brinquedo do outro. Quem não gosta de novidade?

A questão é: como vamos proporcionar a essas crianças um ambiente seguro e confortável para que elas descubram como funciona a vida em sociedade? Como vamos ensinar a essas crianças como lidar com frustração, apego, inveja, raiva?

Sugiro que antes examinemos em nós como lidamos com essas emoções. Sugiro que examinemos em nós como lidamos com a vida em sociedade, seus acordos, seus compromissos.

E mais: não dá pra pedir pausa, refletir, chegar a uma conclusão e só então agir. É tudo ao mesmo tempo agora. Haja Presença!


sexta-feira, 13 de março de 2015

Escola: a volta dos que não foram

Não, eu não consegui. Depois de muita crise, muitos questionamentos, muito choro (de ambas as partes, registre-se), decidimos que não é hora do Joaquim ir pra escola. Decidimos que não é hora de voltar a trabalhar.

Apesar da intensidade da crise, a questão é muito simples:

- POR QUE o Joaquim precisaria ir pra escola?
- Pra mamãe voltar a trabalhar. (ponto - nunca teve nada a ver com "conviver com amiguinhos" ou "exercitar as habilidades motoras e cognitivas" - isso jamais me convenceria...)

- E POR QUE a mamãe precisaria voltar a trabalhar?
- Pra ganhar mais dinheiro. (no meu caso não estaria relacionado a "voltar à minha vida", porque minha vida profissional já estava uma bagunça antes do Joaquim nascer. Também não estaria relacionado a uma necessidade de realização pessoal através do trabalho, simplesmente porque esse não é o meu caso... minha relação com trabalho e com realização pessoal é muito mais complexa e cada vez mais eu tenho certeza de que esse não é o momento de resolvê-la. Esse é o momento do Joaquim! O problema é que de seis em seis meses eu acho que "acabou o momento do Joaquim" e que chegou o "meu momento". Mas logo em seguida eu percebo que não...)

Bom, se o sofrimento todo era "só" pra ganhar mais dinheiro, foi só fazer algumas contas pra ver que não precisava de sofrimento. Simples assim.

Claro que na prática não foi simples. Demorei pra formular a equação.

Depois que ela estava clara a solução não foi difícil. E não consigo não me culpar por não enxergar as coisas antes. Mesmo sabendo que a culpa não ajuda em nada... mesmo sabendo que tudo faz parte do processo...

A primeira semana sem escola foi pura celebração! Tudo fluía, tudo era leve. A sensação era que eu estava vivendo plenamente de acordo com a minha Verdade.

Na segunda semana não foi bem assim... caí novamente numa armadilha de achar que "tenho que trabalhar". Percebi um pouco tarde, mas não muito. Esse tema vai voltar. Essa questão é forte: trabalho - dinheiro - quem paga as contas - o que vale mais - quem vale mais - como as coisas são valoradas - quais os pesos e as medidas.

Sim, eu ia falar de escola...

O fato é que nada me convence que escola, em se tratando de primeira infância, pelo menos, é uma simples necessidade da família de "deixar as crianças em algum lugar". PRA QUÊ?! Tem que ser assim?! Quais as prioridades? Quem é o ser mais importante da sua vida e que lugar ele ocupa nessa lista?

Se a essa altura você está revoltado pode ser por dois motivos:
1. não compartilhamos da mesma premissa. É capaz que você ache que a escola tem outras (nobres) funções que não só a de "depósito de criança". Podemos conversar sobre isso...
2. você realmente concorda com o que eu disse, mas se vê numa teia, num beco, numa equação enigmática. Podemos conversar sobre isso também... não vou resolver seus problemas, cada um tem seu caminho, mas não é a toa que vivemos em sociedade. Podemos nos ajudar. Devemos nos ajudar...

E se você não está revoltado, se você já vive - ou está disposto a viver - esse novo paradigma, vamos conversar sobre isso!!! Ainda estou engatinhando, também preciso de ajuda!




terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Começamos na escola... muita, muita coisa pra falar sobre isso. Mas agora não dá, mamãe precisa trabalhar.

Na semana passada, a primeira, você chorou um pouco. Sexta-feira ficou bem e fui comprar o resto do seu material. Saí da escola ouvindo no carro "O último por do sol". ´No dia em que você foi embora eu fiquei sozinho no mundo sem ter ninguém...´ desabando de chorar, sentindo na pele o rasgo da separação.

Ontem não quis saber de ficar sem a mamãe. Hoje ficou. Mas não disse tchau. Entendi que é demais: "ok, eu fico, mas não me pede pra falar tchau".

Dessa vez vim embora ouvindo "Tem mais samba". Vem que passa teu sofrer, se todo mundo sambasse seria tão fácil viver...