terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Hoje foi o primeiro dia da sua vida que você passou sem mamar. Resolvemos isso ontem. Você disse até tchau. Eu chorei. Chorei que nem besta. Chorei porque me dei conta que meu bebê foi embora. Acabou. Ficou pra trás. Chorei porque saudade é uma coisa que me corroi e saudade do que não volta é cruel demais. Chorei porque fiquei lembrando da sua carinha mamando. Olhões abertos pra lá e pra cá. Olhos revirando de prazer, sono e relaxamento. Olhos fechados no mundo dos sonhos. E as bochechas?! E a boca?! O cabelo molhado de suor.

Ah filho, que bons momentos passamos! É verdade que ultimamente andava um pouco sofrido. Sei lá, me dava uma coisa estranha, um incômodo, uma vontade de ter meu corpo de volta. Nessas horas você não mamava. Eu preferia te ver chorando e lidar com isso do que amamentar com sentimentos ruins.

Sinto que você também estava precisando soltar as amarras, viver novas aventuras, mergulhar de cabeça num pratão de comida, largar a muleta e cair de sono.

E a sensação mais doida foi de que agora você não é mais meu. Vai saber se onde dia foi; vai saber se um dia deixará de ser. Mas nesse momento algo mudou nessa configuração.

Hoje foi só o primeiro dia. Não sei como vai ser amanhã. Não sei como meus peitos vão se comportar, já conversei com eles, expliquei o que estamos resolvendo e agradeci muito, muito, muito pela dádiva que eles nos proporcionaram. Mas talvez eu ainda precise de você. E preciso mesmo, até te contei isso hoje enquanto fazia você dormir. Faz uns dias já que você dorme sem mamar. Nos primeiros dias dormia no colo, mas logo passou a ir direto pra cama, às vezes me chamando pra deitar ao seu lado. Hoje eu perguntei: colinho ou cama? Você respondeu colinho, me estendendo os braços. Eu te abracei e agradeci, porque eu também preciso do seu colo.

O Joaquim tem que desmamar da mamãe e a mamãe tem que desmamar do Joaquim. Eu te ajudo, você me ajuda. Mas nos momentos em que "alguém tem que ser forte", fique tranquilo. Esse alguém sou eu.

3 semanas de vida


Na primeira viagem. Extrema, MG

Na casa da tia Doida, foto pelo tio Marcelo

Pirenópolis, GO

Primeiro acampamento, Praia da Fazenda, Ubatuba, SP

NYC

Sim, é ele mesmo, o Grand Canyon!

Anteontem, acampamento em Itamambuca, Ubatuba, SP



sexta-feira, 31 de outubro de 2014

"Não corre!"

Você já reparou como pais de crianças pequenas costumam proferir essa frase? No parquinho: "Não corre!", no clube: "Não correee!!!", em casa: "Não corre!", em casas de visitas: "Não coooooorreeeeeeeee!!!".

Gente, deixa a criançada correr!

Criança precisa correr, ainda mais os que estão descobrindo esse prazer, acabaram de firmar o andar e de repente descobrem que podem correr! Podem? Não, tem sempre uma mãe maluca, uma avó cansada, um pai sem paciência dizendo "Não corre!".

Qual o problema de correr?!

Cair? Cai, levanta! Ok, existem lugares perigosos, existem situações verdadeiramente perigosas, mas na maioria das vezes o prejuízo não passa de um joelho ralado e um choro que logo se resolve.

(ABRE PARÊNTESES) aproveitando o ensejo, gostaria de chamar a atenção para o famigerado "não foi nada" que se segue aos tombos e cia. Não foi nada uma ova! Tá doendo, tá doendo a dor do joelho ralado, tá doendo a dor da frustração ("poxa, estava tão bom correr!"), tá doendo a dor da vergonha. Não sei se você se lembra do seu último tombo, ou mesmo aquela topada do dedão no pé da cama. Doeu pra chuchu! Ou se você lembra quando estava tentando fazer alguma coisa e de repente virou tudo, deu errado, que saco! Se alguém viesse te dizer "não foi nada" era capaz de levar uma resposta mal educada. Mas a criança não, a criança tem que engolir o choro e desqualificar o que está sentindo. Mas está sentindo, e aí? Não precisa dramatizar. É só falar "poxa, você caiu, tá doendo né?" Dá um colo, dá um abraço, um beijinho, assopra. Pronto, passou! Mas não vai me falar "pronto, passou" assim que a criança caiu, enquanto está aos berros. (FECHA PARÊNTESES)

Pais, mães, avós, cuidadores, vamos meditar sobre o que é proteção e o que é sufocamento. O que é proteção e o que é subestimar a capacidade da criança (isso é o que mais vejo, na verdade).

Proteger é proporcionar um ambiente seguro para que a criança possa se desenvolver livremente (mas não vai me deixar a criança trancada num quarto forrado de EVA, rs... esse ambiente pode até ser seguro para machucados, mas é uma violência para o cérebro!). Proteger é ensinar que em chão molhado não se corre. Mas deixar a criança correr tranquila quando vê um amiguinho vindo lá longe no parque.

Se o calçado da criança não é adequado pra correr, me desculpe, mas esse não é um calçado adequado pra criança!

E pra terminar, uma provocação filosófica:
Que tal nós, adultos, que vira e mexe bradamos "Não corre!", tentarmos praticar nosso próprio conselho, freando o ritmo de vida maluco que temos levado?! Que tal observarmos nossas próprias atitudes apressadas e diminuirmos a densidade de compromissos/hora?

Agora é a minha vez: "Não corre, galera!"

sábado, 18 de outubro de 2014

As crianças e a falta de água

É, não tem como escapar, o assunto é esse. A água vai acabar, a água está acabando, a água acabou.

Tenho feito um esforço enorme pra não sintonizar com o alarmismo, com o pânico, com o estado de choque, com a disseminação do medo, com a sensação de impotência. E olha, vou dizer que não está sendo fácil. Agora, se pra mim não é fácil, uma pessoa adulta, com conhecimentos e vivências, com acesso a diversos tipos de informação, imagina só pra uma criança, que ainda está descobrindo como o mundo funciona?

Temos sim que incutir nas crianças o senso de responsabilidade no uso das coisas que precisamos para viver. É fundamental que as crianças aprendam desde muito pequenas a não desperdiçar, seja lá o que for. Mas precisamos estar muito atentos pra não gerar com isso uma mentalidade de escassez e, o que é pior, de medo.

Quem fez a merda com a água fomos NÓS e nossos antepassados. As crianças de hoje nada tem a ver com essa responsabilidade, esse é um problema NOSSO, dos adultos. E é bom que consertemos o mais rápido possível, para que essa bomba não caia de fato nas mãos dos nossos filhos.

Enquanto isso, nada de mandar a criança desligar o chuveiro "porque a água está acabando". Você vai mandar sim a criança desligar o chuveiro, mas porque ela já se banhou o suficiente. No caso do banho, nada melhor do que uma bacia, onde a criança pode brincar até derreter e ainda dá pra aproveitar essa água depois.

As crianças maiores podem perceber que o manejo da água em casa mudou, podem perceber práticas que antes dessa crise a gente não fazia. Talvez elas perguntem o porquê. Podemos simplesmente responder que em tempos de seca - percebeu como tem chovido pouco? - a gente usa a água com mais cautela. "Não vai chover mais, mamãe?" "Vai sim, querido, claro que vai".

Vamos evitar que as crianças vejam a represa seca. Esse tipo de imagem talvez sirva pra educar adultos, mas não serve pra educar criança. Não estou dizendo pra gente esconder o mundo das crianças, mas não vamos chamar a atenção pra isso.

Quando percebermos que uma criança está preocupada, porque "a professora falou", porque viu na TV, precisamos passar pra ela a segurança de que esse não é um problema dela e tem gente trabalhando pra resolver isso (podemos até não acreditar, mas essa pode inclusive ser uma forma para que nós, adultos, tomemos pé da situação). Precisamos dizer que é importante cada um fazer a sua parte, e a parte que cabe a ela é usar bem a água.

Não vamos privar as crianças de brincar com água. Ok, não dá pra fazer guerra de esguicho, mas as crianças podem ajudar a molhar as plantas com a água que vai acumulando na pia da cozinha - coloque uma bacia sob a torneira pra pegar aquela água semi limpa da lavagem de vegetais e coisas do tipo; quando tem sabão a água pode ir pra lavar o chão. Com essa água pode brincar ;)


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Educar para crescer

O título desse texto foi descaradamente copiado de uma matéria que li na revista Cláudia (não anotei a edição, falha nossa). Gostei muito da matéria, com um tanto de surpresa, admito, pois geralmente esse tipo de veículo mais me decepciona do que agrada, principalmente no que tange a assuntos metafísicos como a educação de crianças.

Pois bem, a matéria elenca seis pontos importantes para ter em conta quando temos a enorme responsabilidade de educar, seja como pais, como avós, tios, professores, ou até mesmo pra quem convive esporadicamente com crianças, pois é nos pequenos gestos que demonstramos nossos valores.

Vou citar os pontos levantados, com alguns comentários meus:

1. Ser responsável: a matéria cita o clássico "guardar os brinquedos". Se a criança tem capacidade para pegar um brinquedo da estante, tem capacidade para guardá-lo. Parece bobo, mas é de pequeno que se aprende a tirar o prato da mesa, a arrumar a própria cama, a cuidar das roupas, a gostar de cozinhar e por aí vai, tudo em seu tempo, sem exigir da criança tarefas para as quais ela não está preparada. E atenção à questão de gênero!!! Não é porque é menina que TEMQUE aprender a cozinhar e não é porque é menino que não será tão cobrado nas responsabilidades domésticas. Lembrando que o exemplo dos adultos é fundamental. Não adianta cobrar responsabilidade dos pequenos se não cumprimos combinados. Pense antes de falar e, depois que falou, cumpra.

2. Pensar e agir sem ajuda externa: nessa eu vibrei! Deixemos as crianças errarem, fazerem diferente, demorar um tempão, vestir do avesso. Assim estamos deixando com que aprendam a aprender. O papel do adulto é fazer as perguntas certas e não dar as respostas (isso me lembra da relação mestre-discípulo: quem pergunta é sempre o mestre).

3. Colocar-se no lugar do outro: a matéria fala do mundo individualista em que vivemos e de como os jovens são autocentrados. Aqui vejo mais uma vez a importância do exemplo. À medida em que os pais procuram conhecer os vizinhos, os pais dos colegas da escola, as redes vão se formando e fortalecendo, permitindo com que possamos conhecer melhor a história da pessoa e os motivos pelos quais ela age de determinada maneira. Conhecer ao invés de reclamar. Eita lição de casa!

4. Fazer por merecer: primeiro a matéria alerta para não criarmos crianças mimadas que não se esforçam para ter o que desejam e depois pontua que reconhecer o esforço é uma coisa e premiar grandes resultados é outra. Esse é um detalhe muito importante, que me foi mostrado pelo livro A Ciência dos Bebês (John Medina) e que recomendo fortemente. Basicamente, não interessa a nota que a criança tirou na prova, mas o quanto ela estudou para alcançar aquela nota e é esse esforço que deve ser elogiado e recompensado. Se estudou muito e tirou nota baixa, precisa investigar o sistema de avaliação; se estudou pouco e tirou nota alta também ;)

5. Sentir e mostrar gratidão: ah como me comove quando crianças pequenas dizem um "obrigado!" sincero. Na matéria é ressaltado que as crianças não tem vivido a expectativa do desejo, são atendidas prontamente, e isso deixa a gratidão no esquecimento. Acho que cabe aos pais também chamar a atenção pra tudo de bom que existe na vida da família, que aquilo não vem "do nada", como é bom poder ter ou fazer tal coisa.

6. Saber lidar com as próprias emoções: a matéria chama para a importância dos pais prepararem seus filhos para lidar com medos, expectativas, frustrações. Aqui complica, porque a maioria de nós, adultos, não lidamos bem com nossas emoções, então, como ensinar o que não sabemos?! O livro citado acima também alerta para a importância dos pais saberem lidar com as próprias emoções, talvez como o ponto mais importante na formação de um ser humano. O ideal seria todo mundo fazer terapia, mas pra quem não quer ou não pode, a dica é estar atento às emoções (próprias e das crianças) e pontuar os estados emocionais, se possível dizendo mesmo em voz alta: estou com raiva, estou frustrado, você está assim porque está sentindo ciúme. Uma vez identificada a emoção fica mais fácil entendê-la (empatia) e transmutá-la. E como as crianças pequenas não conhecem as emoções ficam ainda mais assustadas, por não entenderem por que estão daquele jeito. Quando nomeamos o sentimento, as coisas se encaixam e a criança descansa.


Seria possível resumir tudo em: é preciso estar atento e forte. Atenção aos mínimos detalhes. Olhar de verdade, ouvir com atenção, deixar o celular de lado, desligar a TV. Comprar menos, fazer mais. Perguntar como foi, como está, como vai ser. Conferir se foi mesmo. Entender por que não saiu como previsto. Estar disposto a esperar uma resposta, uma atitude, mas assumindo o papel de responsável. Saber sair de cena. Saber entrar em cena. Estar preparado para um improviso diante da plateia. E olhar no espelho, muito, sempre. Precisa força, precisa energia, precisa descanso. Precisamos nos cuidar para poder cuidar deles. É preciso estar atento e forte.


quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Comida industrializada para criança

Eu sou adepta do "faça em casa", sou adepta de alimentos com baixo teor de publicidade (Infância Livre de Consumismo!), mas também sou adepta da sanidade mental das mães e sei que tem hora em que tudo o que a gente quer/precisa é abrir um potinho e dar uma colherada pra criança. Principalmente viajando, se hospedando ou visitando casas de pessoas que não tem hábitos parecidos com os nossos. Ou naquele dia em que estamos absurdamente cansadas, não deu tempo de fazer compra, essas coisas. Você, mãe, sei que me entende.

Pois bem, mas nada disso é pretexto pra eu dar pro meu filho porcarias quaisquer. Ele ainda não tem 2 anos, então por enquanto é açúcar zero. Também não admito glutamato monossódico e outros pozinhos com nomes compostos e origens duvidosas (não me pergunte por que... estou sem tempo pra pesquisar decentemente e dar uma resposta com embasamento científico, rs...). Isso já restringe muito as possibilidades industrializadas, e é justamente por isso que resolvi compartilhar meus achados.

Não tenho nenhum vínculo com as empresas que citarei e não recebo pela propaganda (embora eu ache que deveria, rs...). Mas vamos ao que interessa:

Queensberry
Dei pulos de alegria quando descobri as geleias sem açúcar e os smoothies, também sem açúcar, da Queensberry. Sem falar nas garrafinhas de vidro que são as coisas mais fofas e que coleciono pra guardar temperos =D


  • 100% Fruta: sem adição de açúcar
  • 100% Natural: sem conservantescorantes e aromatizantes

Do Bem
Os sucos com embalagens bem humoradas já me ganharam pelo rótulo. Quando li a lista de ingredientes, quase chorei de emoção e enviei boas ondas de gratidão aos "jovens cansados da mesmice" que os produzem! Coisas como 'Laranja, laranja e mais nada' e 'Água, suco de abacaxi e hortelã. É possível!' você encontra na descrição dos produtos. Segue o site, muito bem feito, é lógico ;) Do Bem

Pesquisando a imagem pro post achei uma avaliação interessante do site Fechando o Zíper.


Mãe Terra
Bom, aqui tem muita, muita coisa pra mãe moderna e natureba cuidar de seus filhotes. Queria destacar alguns itens:

- Sopinha Madá: não é a oitava maravilha do mundo, mas é uma mão na roda pra uma papinha salgada express. O Fechando o Zíper alerta pra quantidade absurda de sódio :( e outros detalhes. Pra mim fica com o status de "use em caso de emergência". E quando preciso, uso mesmo, sem peso na consciência. Fazemos sempre o melhor que podemos, não é verdade?


- Salgadinhos Sabuguinho, Pitzo e Ceboloko: com ingredientes orgânicos e "sem pozinhos artificiais", segundo o fabricante. O Fechando o Zíper (eita povo cri cri, rs...) alerta pra alta quantidade de gordura e sódio. Eles também questionam a coisa dos pozinhos artificiais, mas pra mim tá ok. Um ótimo companheiro nas viagens, naquela hora em que a cadeirinha parece ter espinho e o destino final não chega nunca!



- Flocos de milho: a única marca que encontrei sem açúcar (tem o sem açúcar e o com açúcar mascavo, atenção! Inclusive a foto abaixo é da embalagem com açúcar, que não é a que eu uso, mas foi a que encontrei pra ilustrar). Na embalagem não fala, mas a empresa tem um compromisso de não utilizar ingredientes transgênicos, então estou confiando nisso. O Joaquim adora no mingau!


Da Mãe Terra eu gosto muito também do Trato Mix e Trato Trio, ficam ótimos no mingau (que faço com água, sem leite, diga-se de passagem). Só me decepcionei com a granola, pois todas tem açúcar :( ah, e o macarrão instantâneo eu não gosto... acho a massa integral muito fibrosa... mas aí já é de gosto.

Tem uma linha grande de produtos, vale dar uma olhada: Mãe Terra.

Jasmine
A única granola "de marca" sem açúcar que eu achei! Tem vários tipos, tem que ler o rótulo. Mais uma vez o Fechando o Zíper ajuda a usar com moderação... Também coloco no mingau, pra dar uma variada (deu pra perceber que a gente gosta bastante de mingau por aqui, né? rs...).


No site da Jasmine vi que eles tem uma linha de produtos infantis, mas nunca vi nos mercados aqui da província... se alguém usa ou já usou, me conta!


Atenção sempre!
Não basta ler as "chamadas de capa", tem que correr pras letras miúdas e destrinchar a lista de ingredientes. Por enquanto ainda confio nos fabricantes... mas confio desconfiando, porque vira e mexe estoura uma fraude, então justamente por isso uso os industrializados com MUITA parcimônia.

Preços
O que é bom custa caro. Pelo menos em termos de produto. Mais um ponto a favor de usar de vez em quando.



E você, tem alguma dica de um grande achado nas prateleiras dos supermercados?!



domingo, 28 de setembro de 2014

Joaquim, eu queria tanto conseguir anotar as coisas que você faz, registrar suas conquistas, mas sinceramente não consigo. Tenho tirado muitas fotos, feito alguns videos.

De qualquer forma, de vez em  quando consigo parar pra escrever um pouco e contar algumas histórias. A de hoje é que você, com um ano e meio, quando chora, pede papel pra limpar o nariz!!! Você lá chorando e de repente fala "papéééééél". Eu dou um lenço de papel e você fica limpando o nariz. Pode uma coisa dessa?!?!

Você também está cada vez mais habilidoso com as bolas. A mais nova é uma de futebol, pequena, dourada, que você ganhou da Raquel. Ama de paixão essa bola, que eu acho que é na proporção ideal pra você. Você pega distância pra chutar, corre tocando bola. Meu moleque!

E por falar em proporção, uma das melhores ideias que seu pai teve na vida foi te dar o cavaquinho! Você ficava doido porque não conseguia pegar direito o violão, aí veio o cavaquinho, no tamanho do seu colo. Já faz uns meses (dois, três?). É puro charme quando você senta no colchão, no degrau ou numa caixa de papelão, pega o cavaquinho e começa a tocar e cantar. Por enquanto é canhoto, o que deixa ainda mais charmoso!

Por hoje é só. Vou dormir, senão não dou conta de te acompanhar.

Te amo, filho. Obrigada por ter me escolhido pra ser sua mãe. É uma grande honra cuidar de você!

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O primeiro desenho

Ontem o Joaquim - que hoje completa um ano e meio - pegou uma caneta e saiu falando "desenhá, desenhá". Empolgada, corri buscar a caixinha de giz de cera, arrumei um sulfite e improvisei uma mesinha. Ele se interessou, mas logo vi que o giz era pequeno pra ele (aprendi com a minha mãe, que é arte-educadora, que quanto menores as mãos, maiores devem ser as ferramentas. Giz grande, papel grande). Mesmo assim deixei rolar e estava tão bonitinho que comecei a tirar fotos.






Percebi que ele estava super compenetrado e quando observei melhor vi que a brincadeira tinha virado outra: colocar o giz em pé! Depois de tentar bastante, sair andando com a folha de papel, voltar e continuar tentando, olha só o resultado:


Eu que sou besta, ou é a coisa mais fofa do mundo?! =D

Mas o episódio me fez providenciar um material mais adequado e à tarde fui na papelaria. Achei um giz interessante, grande, do jeito que eu queria e com uma novidade: cada giz tem uma embalagem de plástico, com um sistema retrátil, ou seja, não quebra. É bem caro, comparado a um giz comum, mas resolvi investir e foi o presente de "meio aniversário" que dei pro Joaquim! Ah, outro diferencial: o giz é mais macio, então o traço fica forte sem precisar apertar. Não sei o que os Waldorf e cia vão achar disso, mas eu achei bárbaro, rs...

Comprei também cartolina, que achei uma boa opção pelo tamanho e por ser mais resistente que o sulfite, pois até parece que o papel vai ficar quietinho em cima da mesa, né?

Foi um sucesso e compartilho orgulhosa o primeiro desenho do filhote. Mães e pais, me digam, eu que sou besta ou é muita emoção ver o primeiro desenho do filho?! =D


Na caixa de giz vem 6 cores, as primárias e as secundárias. Eu resolvi dar só as primárias pra começar. Sei lá, coisa da minha cabeça. Depois conversei com a minha mãe e ela falou que cor nessa fase não importa muito, mas ele amou o amarelo, hehe. Ah sim, depois que terminou de desenhar essa parte maior ele olhou o desenho, olhou pra mim e com uma exclamação falou "bólão!".

À noite a diversão continuou e foi a vez do azul. Encanou no azul. Aí ficou pra lá e pra cá com o giz e abrimos a temporada de riscos pela casa (se o giz é macio pro papel, imagina pra roupa, pra parede, etc).

Quando fui colocar ele pra dormir, vi que tinha um risco azul no lençol. Apontei e perguntei "o que é isso Joaquim?". Ele, sem titubear, respondeu: "desenho!".

AMOR.AMOR.AMOR.AMOOOOOOOOR
FELIZ MEIO ANIVERSÁRIOOOOOOOO!!!

sábado, 13 de setembro de 2014

Amamentação em livre demanda: até quando?

Eu sempre achei amamentação em livre demanda a coisa mais óbvia do mundo. Se o nenê chorou, a primeira coisa a fazer é dar o peito. Se o nenê não chorou, não tem por que querer que ele mame (ok, em alguns casos precisa intervir, mas são situações especiais, que devem ser avaliadas em conjunto com a equipe que cuida da saúde do bebê).

Pra mim, fluiu muito bem. É certo que no começo o Joaquim ficava muuuuuuuuuuuito tempo grudado e isso me cansava demais. Mas passou, sobrevivemos e o stress não foi maior do que minha determinação de amamentá-lo de forma exclusiva, sem bicos, sem chupeta.

Aí começa a introdução alimentar, que interfere um pouco na coisa da livre demanda, mas eu continuei dando preferência à amamentação. Até que a pediatra começou a achar que o Joaquim estava ganhando pouco peso. Nisso ele tinha por volta de um ano. Ela receitou umas vitaminas, deu umas dicas, falou pra evitar mamadas antes das refeições, mas na prática não consegui mudar minha rotina.

Só que na próxima consulta, ele com 1 ano e 4 meses, continuava com o mesmo peso. Ela falou que não era grave, pois ele estava crescendo bem em tamanho e isso é o mais importante, mas disse que seria bom dar uma atenção ao aspecto do peso também. Conversamos melhor, eu  falei da minha dificuldade em dar comida pra ele (tanto pra mim quanto pra ele é muito mais prático que ele mame!), da minha dificuldade em identificar a fome dele antes que ele fique resmungando, porque aí só mamando pra resolver, falei que sozinha eu não conseguiria que ele comesse mais, justamente porque quando ele está só comigo ele acha que "não precisa" comer, já que "pode" mamar.

Eu consegui me abrir e me expor de uma forma que eu não imaginava que conseguiria. Ela simplesmente me respondeu que eu precisava resolver em que que eu acreditava, porque a partir do momento que eu acreditasse, eu conseguiria. A conversa foi boa, não saí de lá com nenhuma receita, com nenhuma determinação, mas com várias interrogações e exclamações, ou seja, do jeito que eu gosto!

Foi preciso digerir por alguns dias, até que a ficha me caiu: uma coisa é respeitar os instintos de um bebê que acabou de chegar ao mundo, que estava habituado com um ambiente completamente diferente, que precisa do máximo de amparo, aconchego, conforto; outra coisa é deixar com que uma criança de um ano delibere sobre a própria vida, sobre a rotina da casa, sobre a rotina da sua mãe.

Resolvi então substituir a "livre demanda" por "quem é que manda". Não gosto da coisa de "impor limites", mas concordo que as crianças precisam de contorno, senão elas ficam perdidas, desamparadas, boiando em um mar de emoções desconhecidas e assustadoras.

E quando que um bebê passa a ser criança? Só você, mãe, pode responder e essa resposta só vai valer para o seu filho. Se precisar de uma definição mais genérica, desconfio que tenha a ver com o desenvolvimento do caminhar e da fala.

Pois bem, expliquei pro Joaquim que nosso esquema ia mudar (eu sempre explico as coisas pra ele). Disse que ele precisava comer mais e que pra isso ele iria mamar menos e em horários que eu determinasse. Deixei claro que não estávamos desmamando, mas apenas organizando. Logo de cara já combinei que seria uma vez de manhã, uma vez à tarde, uma vez à noite e uma de madrugada (ui!).

Paralelamente implementamos coisas que já tínhamos identificado que faziam diferença na rotina com a comida, como dar comida pra ele separado da gente (a mesa cheia de coisas vira um mundo de atrativos e pretextos pra não querer colocar a colher na boca). Sem falar na coisa de horários e rotinas, que é um desafio constante na minha vida.

A presença e ajuda do pai foi fundamental. Minha mãe também ajudou e ajuda bastante. E minha cabeça caraminholando foi caminhando nos insights. Lembrei que a Laura Gutman fala que o bebê é um fiel companheiro e que ele nunca vai deixar sua mãe em apuros. O bebê que não dorme e/ou que solicita demais o peito é porque provavelmente sente sua mãe só, desamparada, e faz questão de ficar com ela, como que dizendo "você não está sozinha, eu estou aqui!".

Laura, minha guru na maternagem, também fala que não é necessário resolver a questão, mas simplesmente olhar pra ela e isso vai liberar o bebê.

Então tratei de explicar mais isso pro Joaquim: que se eu me sinto sozinha, não é responsabilidade dele me fazer companhia; que quando eu fico triste ele não precisa se preocupar, porque eu sei me cuidar, porque eu tenho quem cuide de mim e porque sou eu que cuido dele e não o contrário.

Mesmo com essa clareza toda, de olhar para questões mais profundas, de confiar na capacidade dele de entender, ainda me espantei com a rapidez que a mudança aconteceu!

Durante o dia foi tranquilo, no primeiro dia já conseguimos e já vi o reflexo no volume de comida. Na madrugada não foi tão simples, custou muito choro, muito cansaço, muita conversa (nem sempre amena, é verdade, mas também acho que uma fala mais enérgica bem colocada é fundamental).

Por outro lado, qualquer alteração na rotina, como uma viagem, por exemplo, abala tudo. Aí é preciso fazer concessões, ceder, retomar. Quando eu estou sozinha com ele o dia todo e fico muito cansada, também abro minhas exceções, de forma clara e consciente.

Ainda assim, temos feito grandes progressos.


sábado, 9 de agosto de 2014

Mudar de ideia

Já li em vários "manuais" de como educar bem uma criança que uma das coisas mais importantes é a firmeza da palavra dos pais, dos adultos em geral. O "não" tem que significar "não" e o "sim" tem que significar "sim". Quem estabelece uma regra, mas não se manifesta no caso de descumprimento, perde a força da palavra e vai perdendo a confiança da criança. Cumprir o combinado ajuda a "situar" a criança. Não gosto da história de colocar "limite", mas entendo que as crianças precisam de "contornos". Acordos claros dão contorno.

Mas também é importante ensinar para as crianças que é possível mudar de ideia. É importante ensinar para as crianças que cometemos enganos e que a melhor coisa a fazer é corrigir um engano assim que o detectamos - por isso a importância de se permitir mudar de ideia. É importante ensinar às crianças que devemos estar abertos a novos pontos de vista - e em face de um novo ponto de vista, talvez queiramos mudar de ideia. É importante ensinar às crianças que imprevistos acontecem - e que diante de um imprevisto talvez aquele plano inicial não funcione e seja preciso mudar de ideia.

Antroposóficos e montessorianos dizem que no caso de crianças pequenas, quanto mais estável for a vida, melhor. A mudança de ideia seria um tempero e, alem disso, deveria ser usada com consciência, deixando claro por que foi preciso alterar o rumo inicial.

Mas não misturemos a mudança de ideia com falta de planejamento. Quando assumimos a posição de ser a referência de uma criança, seja como pais, professores, cuidadores, devemos nos esforçar ao máximo para manter a lucidez, para fazer a rotina funcionar, para prever o imprevisto. E se, com todo esse esforço, ainda for preciso mudar de ideia - e será - a criança saberá que comprometimento e dedicação não são garantia para que as coisas saiam como o planejado, mas que com flexibilidade e criatividade tudo se ajeita e boas surpresas acontecem.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Mãe de si mesma

Dizem os psicólogos que todos nós carregamos a criança que fomos. É a tal da criança interior. É um dos aspectos da nossa mente e do nosso emocional (ah, aviso que não sou profissional de área, então já peço desculpa por alguma confusão nos termos. Falo, portanto, de leiga para leigos, mas aceito ajudas e correções dos estudiosos e estudados).

Como criança que é, a criança interior é um poço sem fundo de necessidades, quereres e solicitações. Geralmente é um tanto birrenta e escandalosa, mas tem também a alegria e o encantamento inerentes a esses pequenos seres. É criativa e ativa. Tem muita energia e se entrega completamente aos seus afazeres. Não desiste fácil. Não entende direito responsabilidades, horários e compromissos. Quer fazer o que quer. Mas vive em um corpo de adulto, com agenda de adulto.

Esse adulto, por sua vez, não entende certos rompantes e não gosta quando ouve "para com isso, você tá agindo como criança!". E está mesmo. É a criança interior esperneando porque queria fazer uma coisa e a forçaram a fazer outra.

Essa criança nunca cresce? Me disseram que não... e é melhor que seja assim, porque é ela que nos abastece de criatividade e alegria; é através dos olhos dela que nos encantamos com uma flor; é ela que nos faz parar por uma fração de segundo pra olhar o céu. E são essas pequenas coisas que deixam a gente mais leve, que enchem nossos pulmões com um suspiro profundo, que chega até o coração e dá ânimo pra seguir em frente.

Vale então olhar pra essa criança de vez em quando. Como ela está? Do que ela precisa?

Quando estamos cuidando de uma criança - a de fato, em corpo de criança - fica mais fácil olhar pra nossa criança interior, fica mais fácil entender suas necessidades e seus mecanismos. Às vezes o cuidar de uma criança nutre a criança interior e tenho visto que é possível ser mãe - ou pai - de si mesma/o, mãe da minha criança interior. Mais do que possível, é necessário.

É, na verdade, o eterno e constante trabalho de auto observação, auto estudo, mas com uma ajudinha de imagens e arquétipos. Negociar com a criança interior pode ser mais fácil do que tentar entender e transformar sentimentos abstratos. Basta imaginar aquela criança e conversar com ela. Ela vai te responder, pode ter certeza. Mas lembre-se: criança não esquece! Promessa é dívida. Por outro lado, criança se contenta com tão pouco... geralmente o principal ingrediente é a atenção, e o que vem depois é só alegoria. Você não precisa prometer um tablet. O que a criança quer é que você brinque com ela, nem que seja de jogo da velha. Isso vale pras crianças interiores e exteriores...

Passeie de mãos dadas com sua criança. Vá aonde ela pedir. Fique o tempo que ela quiser. Providencie um bom lanche. E na volta, você verá que não terão problemas para encarar o banho, a lição de casa, o jantar e a hora de ir pra cama. No final, esteja preparado para os mais lindos e inspiradores sonhos.

Trazendo esse exemplo pra nossa relação com a criança interior, a parte do passeio pode durar poucos minutos (e não precisa ser um passeio de fato... pode ser um instante de rabiscar livremente com lápis de cor, ou brincar com um cachorro. Só a sua criança pode te dizer o que será), enquanto que a "lição de casa" dura o dia todo. A escala é outra, mas a inspiração do sonho não tem medida e pode se revelar em um breve lampejo - o famoso insight - ou naquele pique que faz trabalhar e produzir o dia todo e ainda praticar um esporte ou hobby antes de dar o expediente por encerrado.

Onde está sua criança? Do que ela precisa? Onde ela quer passear?

sábado, 21 de junho de 2014

Filho, você tá andando!!! A coisa mais linda, mais encantadora. Os primeiros passos foram no gramado da casa da vovó Cris, no dia do aniversário do tio Ju, indo atrás do "bolão" que o papai te deu. Mamãe queria escrever lindas coisas pra registrar esse momento, mas não tem conseguido... mas a vovó Cris conseguiu! Veja que lindeza:


Aí está o Joaquim dando seus primeiros passos, soltinho! Quanta emoção!
Na alegria dele, é como se eu visse a alegria que cada um dos quantos ancestrais da espécie sentiu por concretizar em si, por sua vez, mais essa engenhosa e instigante aventura. Certamente com a mesma sede de avançar, de poder, de superar, de progredir, de transpor, de galgar, de se levantar, de ir em frente, de se divertir, de subir, de se elevar... De buscar o horizonte, se ampliar.

Talvez não haja maior alento para nossa alma humana do que ver as coisas acontecerem normalmente, de acordo com "o combinado".

Vai, Joaquim,
pular no colchão
andar de costas, conhecer o chão
pular numa perna só, fechar os olhos ao andar.
Vai correr
até chegar
fazer a trilha, avistar
Vai achar o caminho das pedras na água da cachoeira
Sentir o frio na barriga
na corda-bamba, pra variar 
pular na cama elástica, fazer piruetas, bambolear
Vai ver que o mundo é uma bola
Sua bola mais querida!
Que não pára de girar
No meio de muitas outras
Sem ter ninguém a chutar 
Vai subir "nos pés de quê"
pegar frutas, se equilibrar
Vai dançar livre, dançar
ao som do frevo, do vento,
reggae, chuva, maracatu,
samba, valsa, minueto
catira, polca, lundu...

À noite dançar o silêncio
com as estrêlas
nossas irmãs
Respirando a escuridão
assuntar o universo
entrevistar a imensidão!

Vamos estar todos juntos
Sua mãe, seu pai, seus avós
Seus tios, primos, amigos
Seja a que distância for

Papai é quem acende o fogo
mamãe é quem faz o chá
você busca o violão
Fogo e água em seus lugares
Isto é a perfeição


Faço a cama na varanda, traz pra nós o cobertor...

quarta-feira, 19 de março de 2014

Ô filhote, faz tempo que a mamãe não escreve pra você... nossos dias tem sido muito intensos! A vida real não deixa espaço pro virtual e é assim que eu gosto. Por outro lado tem uma urgência em registrar tudo. E haja foto, e haja filme, e haja foto, e haja filme. Aí tem que ter umas palavrinhas da mamãe também :)

Você fez um ano! Foi bonita a festa, pá. Me atrapalhei toda, é verdade. Foi tudo assim atropelado. A gente não queria festa e de repente tinha 15 pessoas na nossa sala. E a doida da sua mãe achando que ia dar conta de fazer jantar e bolo pra todo mundo, tsc, tsc... e isso porque você ajuda, né amor? Você fica tão lindinho na cozinha, pra lá e pra cá, de armário em armário! Tem o "vruuuuuum", seu brinquedo favorito - um liquidificador! Tem a cuia que faz tempo que é sua amiga. E as peneiras embaixo da pia, encantadoras com suas formas esféricas que você tanto ama.

Em dado momento você cansa. Resmunga, ajoelha e ergue os bracinnhos, a coisa mais fofaaaaaa! Aí a gente vai pro seu quarto, você mama e dorme. Quase todo dia é assim. Nossos dias são tão gostosos, né filho?

A melhor coisa do mundo é poder cuidar de você. É poder estar disponível pra você. Eu queria tanto que toda mãe e todo nenê tivessem isso...

Nossa vida é muito boa, Joaquim.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Noites mal dormidas e a licença paternidade

O aniversário do Joaquim está próximo e vira e mexe me pego lembrando dos primeiros dias com ele. Então me veio um insight, que gostaria de compartilhar com os futuros e muito recentes pais e mães:

Se um homem, pai de um recém-nascido, tem uma noite ruim, com poucas horas de sono e um considerável desgaste nas horas acordado; se esse homem precisa levantar cedo e ir trabalhar, ele está em condições físicas, mentais e emocionais MUITO melhores do que uma mulher, mãe de um recém-nascido, que teve uma noite ruim, com poucas horas de sono e um considerável desgaste nas horas acordada.

Essa mulher, que acabou de passar por um parto ou uma cirurgia e, portanto, está com seu corpo já bastante fragilizado; essa mulher vai passar o dia amamentando, cuidando da coisa mais preciosa da vida dos dois, sem saber muito bem como deve fazê-lo, ou por mais que saiba, sempre se questionando em dúvidas e culpas; essa mulher está lidando com um terremoto de emoções desconhecidas; ela vai passar o dia sem saber se e quando conseguirá ir ao banheiro, sem saber se e quando e o que conseguirá comer, sem saber se e quando conseguirá trocar de roupa ou escovar os dentes; e essa mulher, ainda por cima, vai acreditar que precisa encenar o papel da mãe-em-estado-de-graça-com-um-lindo-bebê-nos-braços e isso só vai contribuir para que seu estado emocional piore e fique cada vez mais indecifrável.

Essa mulher não deve poupar seu marido de acordar de madrugada "porque amanhã ele precisa trabalhar". Essa mulher precisa do marido ao seu lado, presente, mostrando com olhos, boca e mãos que ele está ali. Essa mulher precisa de uma xícara de chá às duas da manhã. Essa mulher pode precisar que alguém troque a fralda de seu filho enquanto ela vai fazer um xixi. Essa mulher precisa que alguém a ajude com as almofadas que teimam em não se ajustar ao seu novo ofício. Essa mulher precisa não se sentir sozinha (e não há nada mais solitário do que ter alguém que ronca a seu lado).

Antigamente, durante a quarentena, as mulheres mais velhas se encarregavam da puérpera e o marido ia dormir no quarto ao lado. Hoje as coisas mudaram e não são só as mulheres que precisam ser multi-tarefas.

Diante disso, concordo com a licença paternidade de um mês. É um mês que pode fazer muita diferença na vida daquela família, que pode evitar um nenê doente, que pode evitar um surto histérico da esposa (evita um, não evita todos, rs...).

Se o cara não dormiu bem, ele não vai render no trabalho a mesma coisa, é fato. E ele precisa não dormir bem, pelo bem de sua família. Pelo bem da formação de um ser humano, que interessa a toda a humanidade que seja bem formado. Nada mais justo do que ter esse ônus repartido com todos.

Um mês resolve? Olha, pra mim, foi o período mais crítico. Não sei se resolve, mas ajuda muito.

E enquanto não dá pra ter um mês? Força papais! Será por pouco tempo... passa devagar, parece uma eternidade, mas depois que passa percebe-se que é um tempo muito curto.

E mulheres, por favor, mostremos que precisamos de ajuda. Aceitemos ajuda. É pelos nossos filhos e eles tem esse direito.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Televisão para bebês e crianças. Fuja!

Eu já dei meu relato da vida sem TV, que publiquei no Aralume. Mas tenho andado preocupada, triste, incomodada com o tanto que a televisão faz parte da vida de crianças e até mesmo de bebês. Poxa vida pessoal, expor um bebê, de menos de um ano, a uma televisão é algo que me arrepia os cabelos. Mas como meus cabelos não estudaram em Harvard, nem fizeram doutorado em comportamento humano, chamei pra essa conversa um neurocientista, o John Medina, que escreveu um livro que tem me ajudado muito chamado A Ciência dos Bebês. Não é nada bicho grilo, é baseado em pesquisas científicas e traz dados e recomendações muito importantes.

O que eu gostaria é que os pais pensassem, tivessem consciência do mal que a televisão faz para seus filhos. Não é uma bobagem, não é um simples divertimento, não é a hora do descanso e, principalmente, não estimula vocabulário, nem cognição, nem nada de bom. Ah, deixa eu ficar quieta. Vamos ao livro:

Algumas convenções pra deixar a leitura clara e honesta:

Os grifos são meus.
"Aspas" são pra indicar que a citação é ipsis litteris
(comentários entre parênteses são do próprio texto)
(...) indica que houve um corte no texto original. Cortei detalhes sobre as pesquisas e exemplos.
[comentários entre colchetes são pra ajudar a contextualizar o fragmento do texto]
{comentários entre chaves são dessa pessoa inquieta que não consegue não opinar!}

"A pesquisa cerebral nos afirma que também existem várias toxinas [para o desenvolvimento cerebral e comportamental de um bebê]: forçar a criança a cumprir tarefas para as quais seu cérebro ainda não atingiu o desenvolvimento necessário; estressá-la até o ponto que em psicologia se intitula "desamparo aprendido"; e, para os menores de dois anos, a televisão."

"O problema da exposição das crianças à TV não solta tanta faísca como antes. Há um consenso geral de que se deveria limitar a exposição de uma criança a qualquer tipo de televisão*. Também há consenso geral de que ignoramos totalmente esse conselho."
*mais adiante o autor deixa claro que quando se refere à televisão está, na verdade, se referindo a todos os tipos de telas digitais, incluindo computadores e tablets.

"O certo é que a quantidade de TV que uma criança deveria ver antes dos dois anos de idade é zero."

"A TV pode provocar a hostilidade, perturbar a concentração. (...) A TV também envenena a amplitude da atenção e a capacidade de se concentrar. Cada hora adicional diante da TV, para uma criança de menos de três anos, significou um aumento de cerca de 10% na probabilidade de ter problema de atenção quando chegar aos sete anos. Portanto, um pré escolar que assiste a três horas de TV por dia tem probabilidade 30% maior de sofrer problemas de atenção do que uma criança que não assiste à televisão."

"Até mesmo manter-se a TV ligada quando ninguém está assistindo - exposição indireta - também pareceu prejudicial, talvez por desviar a atenção."

Abaixo, o autor transcreve uma recomendação da Associação Norte-Americana de Pediatria:
"Os pediatras deverão insistir com os pais para evitar que as crianças assistam à TV antes dos dois anos de idade. Embora certos programas possam ser destinados a crianças dessa faixa etária, a pesquisa sobre o início do desenvolvimento cerebral demonstra que os bebês e as crianças pequenas tem necessidade fundamental de interação direta com os pais e com outros cuidadores importantes, para um crescimento saudável do cérebro e um adequado desenvolvimento das capacidades social, emocional e cognitiva"

"Ela [a TV] afeta tanto a capacidade de leitura quanto a aquisição da linguagem. Mas depois dos dois anos de idade os piores efeitos sobre os cérebros infantis talvez ocorram porque a televisão afasta as crianças das atividades físicas" {em outro capítulo o autor fala dos videogames, incluindo aqueles que estimulam a movimentação, como Wii e Xbox... as notícias não são animadoras...}

Finalizando o capítulo:
"Portanto, apesar de a maioria esmagadora confirmar que a exposição à televisão deve ser limitada, não se deve fazer dela um bicho de sete cabeças. Os dados sugerem algumas recomendações:
1. Mantenha a TV desligada antes de a criança completar dois anos {sorte dos irmãos mais velhos, que terão que esperar o(s) caçula(s) completar(em) dois anos!}. Eu sei que é difícil ouvir isso quando se é pai ou mãe e se precisa de uma pausa. Se você não puder desligar (se não criou uma rede social que lhe permita um descanso), pelo menos limite a exposição do seu filho à TV. Afinal, nós todos vivemos no mundo real, e um pai irritado e insone pode ser tão danoso para o desenvolvimento do filho quanto qualquer irritante dinossauro roxo.
2. Depois dos dois anos, ajude seus filhos a escolherem os programas (e outras exposições a telas). Preste especial atenção às mídias que permitem interação inteligente. {o autor não define o que é "interação inteligente" e isso me preocupa, porque não acredito na definição que os fabricantes de jogos dão!}
3. Assista junto com seus filhos aos programas de TV escolhidos, interaja com a mídia, ajude-os a analisar e pensar de modo crítico sobre o que acabaram de assistir. E pense duas vezes antes de instalar um aparelho de TV no quarto das crianças. As que tem o seu próprio aparelho de TV obtêm médias 8 pontos inferiores nos testes de matemática, linguagem e artes do que as que só assistem à TV na sala de estar da família."

O próximo capítulo é sobre os videogames e não vou entrar nesse assunto. Recomendo fortemente a leitura do livro.

E se você é um pai, mãe ou cuidador um pouco mais sensível, recomendo a literatura da pedagogia Waldorf, o método educacional da antroposofia. Eles sim são mais radicais, mas concordo plenamente com todos os argumentos e é por isso que não temos televisão em casa.

Vale lembrar que se os pais assistem televisão, as crianças também vão querer assistir. Precisa ser muito firme pra manter a disciplina e isso pode ser mais estressante do que abrir mão da televisão e dar um jeito de entreter as crianças.

Esses dias andei lendo sobre o método Montessori de pedagogia e simpatizei bastante. Umas das coisas que eles pregam é a importância de ensinar a criança a brincar sozinha. Atenção: não é fazer com que ela só brinque sozinha; nem é para deixá-la sozinha. É pra estar junto, mas cada um com suas tarefas. O adulto perto, apoiando com sua presença e seu olhar. Vale a pena dar uma olhada nessa postagem do Lar Montessori, com dicas simples e que fazem grande diferença na relação pais e filhos.

Outra coisa que ajuda, no caso de crianças bem pequenas, é organizar a casa de forma que ela fique mais segura, ou seja, colocar as coisas perigosas no alto e as coisas não perigosas em locais acessíveis. Não me vá levantar tudo e deixar a criança com aquela sensação de que tudo é longe e inalcançável! Haja terapia pra resolver isso depois... mas, enfim, aqui em casa, que temos um bebê engatinhante e escalante, reorganizei todos os armários da cozinha. Nos mais baixos deixei coisas que não quebram e não machucam, como potes de plástico (sim, ainda tenho alguns, rs...), panelas (as de inox não amassam), embalagens de alimentos fechadas, eletrodomésticos (Joaquim ama brincar com o liquidificador e a máquina de fazer pão. E não, não estraga). Ele desbrava a cozinha e eu cozinho. Além de tudo, peças de cozinha são ótimos brinquedos, tem cores, formas, materiais, sons e texturas variadíssimos.

Enfim, observe qual o papel da televisão na sua casa e qual a necessidade dela. Faça isso com consciência, com clareza e honestidade. Eu tenho certeza de que você tem um pouquinho mais de energia pra dedicar pro seu filho, seu tesouro, luz da sua vida e coisa mais preciosa do mundo!

Pra finalizar, recomendo um blog muito bacana, que conheci há pouco tempo e que tem escritos valiosos pra quem quer proporcionar uma infância mais digna a seus filhos. O nome não poderia ser melhor: Antes que Eles Cresçam.

Porque a infância é curta, mas o que acontece nela ecoa para o resto da vida!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

São onze horas da manhã e estamos de pijama. Você com a fralda amanhecida e meus dentes por escovar. Quem observasse a casa, principalmente a mesa do café da manhã e a pia da cozinha, teria certeza que a família fora obrigada a fugir às pressas, por conta de alguma guerra ou erupção vulcânica.

Você mamou por uma hora, como um recém nascido. Com quase onze meses continua meu bebezerro, meu mamute, meu mamão formoso!

Os antroposóficos falam que precisamos ter um ritmo, eu adoraria tê-lo, mas parece que você não se importa com isso. Fico sem saber se devo forçá-lo ou se confio em seus instintos. Os meus? Andam embaçados...

Você finalmente largou o peito, com aquele sorriso iluminado que te acompanha nas manhãs bem acordadas. Sorrio de volta e digo: "Bom dia luz do dia!".

Merecemos uma trilha sonora e quem vem nos fazer companhia é o Milton. Água de beber, bica no quintal, sede de viver tudo, e o esquecer era tão normal que o tempo parava, e a meninada respirava o vento, até vir a noite e os velhos falavam coisas dessa vida. Eu era criança, hoje é você, e no amanhã, nós.

Pronto, agora sim o dia começou! E tudo é perfeito!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O menu do Joaquim

Eu já citei por aqui que a introdução alimentar não foi um mar de rosas... na verdade foi bem estressante... Nem sempre - ou quase nunca - as minhas teorias favoritas funcionavam na prática, Joaquim comia pouco - ou quase nada - e eu ficava ansiosa. Mas o tempo foi passando e como sabiamente dizia a vó da minha prima, "o tempo cura queijo" (mineira, claro, rs...).

Não mudei os temperos, não mudei os ingredientes, não mudei a forma de fazer, não mudei a minha atitude (confesso... adoraria, mas não vou dizer que "aí eu desencanei e a coisa aconteceu"). E eis que uns três meses depois do primeiro quase-bocado o menino resolveu comer! Assim meio que da noite pro dia mesmo.

Bom, essa introdução é só pra dar um alento a alguma mãe que esteja passando pela fase chata que passei de filho-que-não-come. O que me deixava um pouco mais tranquila é que li que enquanto o nenê estiver mamando no peito a nutrição dele está garantida. Há controvérsias, mas eu preferi acreditar nisso a surtar de vez. Quem acalmou meu coraçãozinho foi o Carlos González no livro Comer, Amar, Mamar.

E agora que o meu comilão prestigia a comidinha da mamãe vou contar o que ele anda comendo. Serve também pra eu lembrar, já que escrevo porque tenho memória fraca!

Ah, vale ressaltar que antes de começarmos com os alimentos não-leite-de-mãe fizemos um curso de alimentação vegetariana para bebês e crianças com a Ana Ceregatti, que é nutricionista especialista em dietas vegetarianas e veganas e que me acompanhou na gestação. Eu sou vegetariana e o pai do Joaquim não, mas combinamos de manter uma dieta vegana para ele até um ano de idade e negociar a introdução das carnes "mais pra frente".

O combinado já furou porque resolvemos começar a dar ovos, por orientação da pediatra e também porque eu estava doida pra dar biscoito de polvilho, rs... (que ele adorou, diga-se de passagem! Mas não pense que é "biscoito de pacote". Só biscoito fino, feito pela vovó e pela tia Ju!).

Então vamos lá: no curso da Ana ela passou uma tabela muito legal, que separa os alimentos em 5 grupos, aí é só pegar um de cada grupo e montar o cardápio. Gostei tanto que anotei essa tabela na parede da cozinha e tem sido de grande ajuda!

Os grupos são os cereais, tubérculos, leguminosas, "legumes" (que compreende raízes, frutos e flores) e folhas. Não vou entrar em detalhes porque esse não é um material "aberto" e recomendo fortemente a consultoria da Ana, não só pra quem queira ter uma dieta vegetariana ou vegana, mas pra todos que se interessarem em ter uma boa alimentação.

Mas vou contar aqui as misturas que estão dando mais certo:

Arroz com feijão e cia.: arroz branco, feijão carioca, cará, abobrinha e escarola. Os feijões eu sempre cozinho em panela de pressão com alho e louro, o arroz eu não refogo nem coloco óleo, cará no vapor com azeite no prato, abobrinha no forno com ervas (tomilho, hortelã e manjericão), limão, azeite e tahine, escarola refogada com alho. Tudo sempre com pouco sal (a ideia no começo era não dar sal até um ano, mas a pediatra sugeriu que desse e vimos que o sal era uma forma do Joaquim se interessar mais pela comida...).

Creme de ervilha: ervilha seca cozida na pressão com alho e louro, depois acrescenta: quinua, batata, cenoura e escarola (é que tem bastante na horta, rs...). A quinua praticamente derrete, a escarola tem que ser bem picadinha e a batata e a cenoura amassadas no garfo formam um creminho delicioso.

Creme de abóbora: feijão azuki cozido, abóbora cabotchã, arroz cateto, inhame e, adivinha?, escarola! Isso aqui foi na verdade um aproveitamento do almoço, aí eu bati tudo no mixer e levei ao fogo com ervinhas (tomilho, alecrim, sávia e manjericão). Foi um sucesso!

Angu de milho diferente: angu é o primeiro prato favorito do Joaquim! Pra fazer é só bater os grãos de milho no liquidificador com o mínimo de água e coar. Numa panela, refogar um pouco de cebola no azeite e despejar o suco do milho. Fogo baixo e mexe até engrossar. Essa é a receita básica do angu, que pode levar cebolinha no final. Além dela eu coloquei couve bem picadinha (chega de escarola!). No prato amassei cenoura e mandioquinha, coloquei o angu por cima. Ainda misturei um pouco de tofu, que conta como feijão/leguminosa. O tofu estava temperado com gengibre e de resto só azeite. Exótico, gostoso e nutritivo.

Essas foram as misturas mais legais que fizemos até agora, mas a dupla arroz e feijão permite infinitos acompanhamentos e combinações. Tem também a lentilha, que ele adora. Ontem o Joaquim comeu brócolis direto com a mão! Ah, esse é um detalhe importante: ele fica louco de vontade de pegar a comida, então eu sempre procuro deixar algum ingrediente inteiro pra ele poder pegar e se divertir enquanto vamos dando os amassados de colherada.

Para as outras refeições, muita fruta, geralmente uma fruta sozinha, mas às vezes faço umas misturas também. Ele adora manga com banana (uma manga palmer + 2 bananas prata + bater no liquidificador. Fica divino). Banana é a rainha! Mas ele também gosta de mamão, abacate, pera, maçã, pêssego... Às vezes coloco um pouco de tahine ou flocos de quinua.

E os mingaus! De aveia, de farinha de arroz. Sem leite, claro! Faço com água, aprendi com a Carol, minha cunhada e guru na maternagem ;) pode incrementar com uma fruta (banana, maçã ou pera combinam super). Às vezes coloco uva passa, pra dar um docinho. Já temperei com canela em pau e com cardamomo, com ótima aceitação. E por falar em cardamomo, outro dia fiz um chuchu com curry! Pouquinho, é claro, mas meu pequeno Shiva aprovou (orgulho da mamãe!).

É uma delícia ir mostrando os aromas e sabores pro Joaquim. E ver ele comendo com as próprias mãozinhas também é muito legal! Faz uma baita sujeira, é claro, e confesso que tem hora que economizo na sujeira, ou porque estou cansada, ou porque tem que sair logo em seguida, ou porque ele acabou de tomar banho e está de pijama... mas se não prestar atenção, sempre vai ter um pretexto pra não deixar a criança se sujar comendo e isso é muito ruim, porque é uma privação dos sentidos pra ela. E os sentidos estão diretamente ligados com o prazer. E privar alguém do prazer é muito triste... Sem falar que é um ótimo exercício de coordenação motora. Enfim, se está na chuva é pra se molhar!

Outro dia li num blog um texto falando sobre maternidade e dizia "ninguém disse que seria fácil, mas todo mundo falou que seria maravilhoso!".

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A responsabilidade é do adulto

Faz um tempo que tenho notado em minhas pesquisas de campo uma certa atitude dos adultos em relação às crianças que me incomoda profundamente. É quando a criança faz alguma bobagem e o "adulto responsável" fala "eu avisei que não era pra fazer isso!".

Adulto cuidador (mesmo que seja cuidador só por alguns instantes, mas enquanto a criança estiver nas suas mãos você é o cuidador e o responsável por ela), preste atenção: criança é um ser naturalmente sem noção! O ser humano é um bicho muito estranho que precisa de cuidados intensivos por MUITOS anos. Quantos não sei... a antroposofia diria 14? 21? Não menos que isso, tenho certeza. A legislação brasileira não permite que crianças com menos de 12 anos sejam deixadas sozinhas. E não pode uma criança de 13 e uma menor de 12. Se tem uma menor de 12 tem que ter outra maior de 18 (e pra mim um ser humano com 18 anos ainda é uma criança, mas tudo bem, não vamos polemizar demais...).

O fato é que não basta "avisar", não basta explicar. Tem que pegar pela mão, ou no colo; tem que conferir se fez mesmo; tem que tirar da mão ou do alcance (um objeto perigoso, por exemplo).

Quem cuida de uma criança tem que estar presente com muita disposição. Não dá pra falar de longe "Zezinho, não puxa o rabo do cachorro". Tem que tomar uma atitude, prender o cachorro, prender o Zezinho (brincadeira!), enfim, o trato de crianças exige AÇÃO.

Por exemplo: não adianta mandar passar o protetor solar, tem que ir lá e passar. Ou então, se for uma criança maiorzinha, dá o protetor solar e fica junto até a criança passar. Não adianta falar "passa de novo daqui a duas horas". Tem que ficar de olho no relógio, no sol e na criança e ir lá passar de novo ou dar pra criança passar de novo. Ah, tá na água e não quer sair de jeito nenhum? Faz sair! E se não saiu e ficou queimada, ardendo de sol? Vai dizer "tá vendo, eu falei pra passar protetor solar!"? Não, vai dizer "desculpa Joãozinho, eu não consegui tirar você da água pra passar protetor, agora você tá ardendo e a culpa é minha".

Mas criança não tem que aprender a ter responsabilidades? Não tem que aprender que seus atos tem consequências? Não, criança tem que ser cuidada. Essas coisas ela vai aprender com o exemplo. Ela vai aprender que um adulto cuida dela com responsabilidade, ela vai aprender que os atos daquele adulto tem consequências.

A criança não tem maturidade emocional nem mental pra analisar consequências, pra fazer escolhas importantes (a criança exerce o poder de escolha dentre as opções que o adulto oferece pra ela). Um peso maior do que ela pode suportar vai machucar e pode deixar sequelas. É só imaginar isso no plano físico. Não dê um saco de cimento pra criança carregar! Às vezes um simples saco de arroz já é muito...

Existem muitos desafios para o adulto que cuida de uma ou várias crianças. Um deles é a disposição física de estar atento e usando corpo e a voz quase que o tempo todo. Outro é dar autonomia e liberdade pra criança, certificando-se de sua segurança. Não dá pra entrar numas de tudo "não pode". A criança está descobrindo o mundo! Cabe ao adulto acompanhá-la e ampará-la nessa maravilhosa jornada. Com amor, com carinho e com verdade.