segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Parece com quem?!

É inevitável. Sempre que conhecemos um bebê nos apressamos em definir com quem ele se parece. Pode ser a cara do pai, a cara da mãe, "uma misturinha dos dois", ou será que parece com o tio Fulano? Pensando bem, tem traços da vó Fulana...

Eu, na verdade, tenho dificuldade de achar bebês parecidos com adultos. Simplesmente porque, desculpem, mas eles não são. Além disso, bebês mudam muito. Um bebê de um mês pode não ser nem um pouco parecido com ele mesmo dali a um ano. Muda cor e quantidade de cabelo, cor de olho, volume de bochechas. Por que então essa pressa em catalogar o pequeno ser?

Aí nasce meu filho. É a cara do pai. Quase que unanimidade - mais um ponto a favor de não estabelecer rótulo, uma vez que nem o público se define! Enfim, eu aqui, morenona, sem fazer questão nenhuma de esconder minhas raízes mouras, índias e africanas, e meu filho lá, branco que só o pai, olhos claros que nem os do pai (que tem olhos verdes, mas nasceu de olhos azuis, igualzinho o bebê), cabelos clarinhos que nem o pai quando nasceu.

Até aí tudo bem, afinal, se eu escolhi esse pai é porque eu acho ele bonito - entre outras muitas qualidades, mas, sim poeta, beleza é fundamental. E acho mesmo meu marido bonito, muito, desde sempre e cada vez mais. Pra mim é um elogio dizer que meu filho é bonito que nem o pai. Não ligo pra essas coisas de "ai, carreguei nove meses, passei mal, sofri dores de parto, sofri dores de cirurgia, amamento que nem uma vaca, e o povo vem dizer que é a cara do pai".

Só que o que doi, e só hoje me dei conta que doi muito, é quando dizem que não parece meu filho. Veja bem, não é a mesma coisa. Ele pode ser parecido com o pai, pode ser a cara do pai, pode ser igualzinho o pai, clone do pai, mas não me digam que não parece que é meu filho!

Eu sei que as pessoas "não fazem por mal". Eu sei que eu também falo muitas coisas sem pensar, que acabam magoando as pessoas. Mas me esforço pra prestar atenção no que falo, aliás, me esforço pra prestar atenção no que penso, pra dar tempo de mudar antes de falar - imagina se não esforçasse, que catástrofe, rs...

E se você é desse time, dos que se esforçam pra prestar atenção no que pensam e falam, fica a dica: mãe nenhuma merece que digam que seu filho não parece seu filho. Seja biológica, seja adotiva. Porque essa coisa de "parecer filho" vai muito além da aparência, vai muito além do gene e do "gênio".

Filho é filho, as aparências enganam e a verdadeira ligação entre essas pessoas é maior e mais forte do que tudo o que qualquer um que esteja fora possa imaginar.

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16 de outubro - a saga continua

Sabe aquela história, você tá lá no fundo do poço e te jogam uma pá? Pois é, jogaram! Eu achava que não poderia ficar pior, mas sempre pode ficar pior. Não basta falar que não parece meu filho, precisa olhar bem nos olhinhos da criança e perguntar: "onde foi que sua mãe te comprou?". Não, eu não estou inventando, é a mais pura e cruel verdade acontecida.

Ah, mas foi brincadeira! Não leve as coisas tão a sério...

Olha, eu tenho um ótimo senso de humor, mas não tenho a menor paciência pra esse tipo de brincadeira. Imagina que você é uma criança e te perguntam onde foi que sua mãe te comprou?!

E o pior é que eu fico sem reação... fico com medo de ser rude com a pessoa. E depois fico me sentindo culpada por não ter "protegido a cria". Então lá vai um aviso, em tom de ameaça, coisa que eu detesto: da próxima vez não vai ter tolerância. E tenho dó da coitada da pessoa que sonhar em falar algo do tipo, porque ela vai ouvir tudo o que os outros não ouviram.

E se o episódio abalar a amizade, dane-se a amizade. De amigo assim eu não preciso :(

Caso você tenha sido o autor de algum desses episódios, você tem duas opções:
a) vai se sentir chateado por ter me deixado chateada e não vai mais fazer esse tipo de comentário;
b) vai se sentir melindrado porque eu me melindrei com uma brincadeirinha a toa que você fez.

Se você escolheu a opção (a), ok, continuamos amigos e não se fala mais nisso. Se você escolheu a opção (b), sinta-se desobrigado de manter os parcos vínculos que nos unem.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Introdução alimentar

E já se passaram seis meses! Caramba, o começo parecia uma eternidade! Todo mundo falando "aproveita, porque passa muito rápido" e eu achando aquilo interminável.

Depois de seis meses de amamentação exclusiva, sem chupeta, sem mamadeira, sem nada entre eu e meu filho, chega a hora de fazer a introdução alimentar.

Confesso que eu tinha estudado pouco esse tema, pensando "ah, não preciso ler isso agora, tem tempo". Só que o dia chegou e levei um susto! Comecei então a correr atrás e em uma semana já consegui ler e conversar bastante coisa.

Fomos numa consulta com a pediatra de Bragança, que deu as orientações básicas, mas não me convenceu... nem tanto pela orientação em si, mas pela fórmula pronta e estabelecida. Gente, o mundo não é assim! Até quando vamos ficar nesse engodo? Sei que a maioria das mães quer sair do consultório com uma receita simples; imagino que a maioria das mães vá se indignar com o pediatra que proponha uma reflexão sobre o tema e não dê nenhuma receita de papinha; imagino também que o pediatra que for sincero e mostrar que não existem estudos conclusivos sobre o que introduzir primeiro (frutas ou cereais?!), possa passar por confuso e com pouca credibilidade.

Mas eu não sou "a maioria das mães", ok? Não me acho melhor nem pior. Na verdade, só me sinto um ET, mas a vida já me calejou pra isso...

Aí fui ler. Li uns textos no Blog do Cacá e, claro, adorei. Falando da importância de celebrar as refeições, de ser um momento de convívio prazeroso da família e que isso é muito mais importante do que o que está no prato.

Li também Carlos González, que mostra os tais estudos - e a ausência deles - e compara as recomendações dos principais órgãos oficiais de saúde e pediatria do mundo. Existem divergências (que o autor considera de pouca importância, como por exemplo, se começa com fruta ou com cereais) e existem pontos em comum, que o autor considera importantes e destaca, como por exemplo o papel fundamental do aleitamento materno, inclusive durante a introdução alimentar, sendo a ingestão do leite materno priorizada.

Pra quem se interessa pelo tema, recomendo fortemente a leitura dos livros dele. Tem três compilados em um que chama Comer, Amar, Mamar, que é o que estou lendo.

Fomos também num curso de alimentação vegetariana para bebês e crianças, ministrado pela Ana Ceregatti, nutricionista que me acompanha desde a gravidez. O que gostei no curso é que ela apresenta a dieta vegetariana de forma bastante simples e possível, ou seja, não precisa fazer nenhum malabarismo. Resumindo simplificadamente, basta comer muito feijão e diversificar ao máximo os alimentos. Claro que não foi só isso, afinal ficamos lá duas horas e tem uma apostila, mas é por aí.

Pra encerrar a semana de imersão, peguei o Consultório Pediátrico, livro básico da pediatria antroposófica. Nem vou comentar muito, mas transcrevo abaixo dois trechos que me fizeram vibrar. O primeiro já era meu argumento, mas nada como vê-lo escrito em um livro! E o segundo, também já fazia parte do meu entendimento, mas não tinha conseguido formular em palavras.

"Para a criança é mais conveniente receber a alimentação mais variada da mesa do almoço e do jantar, com exceção daquilo que ainda lhe é indigesto e da proteína animal. Neste contexto, pode-se questionar se para uma criança não é incompreensível o fato de crianças maiores receberem carne e ela não. Convém lembrar aqui que às crianças pequenas também não se oferece álcool, café e chá preto. Convém às crianças aprenderem desde cedo que existem coisas inadequadas a seu estado evolutivo, as quais ela pode aguardar ansiosamente até atingir a idade apropriada. Quando os pais tem certeza de suas decisões, estas são aceitas rapidamente pela criança. Os problemas surgem apenas quando os próprios adultos se sentem inseguros quanto ao fato de a privação de um determinado alimento ter sentido ou não, para a criança. Tal insegurança é imediatamente percebida por ela, que passa então a insistir até que o adulto "amoleça" e acabe cedendo"

Sobre suplementação de vitamina D, que não é exatamente ligada ao tema de introdução alimentar, mas também se refere a nutrição: "É fundamental que a mãe sempre possa ter tempo para "iluminar" seu filho, no verdadeiro sentido da palavra, e brincar com ele. Pois a dedicação carinhosa por parte das pessoas também fornece luz, embora interior, que alegra"

Meus estudos não acabaram - não acabam nunca - pois ainda falta falar com o Cacá e ler mais umas coisinhas, como a Sônia Hirsch (já dei uma boa folheada no Mamãe eu Quero).

Ah, sim, além da questão da idade para a introdução alimentar, tem também a questão do desenvolvimento, pois há recomendações de só oferecer alimentos quando a criança consegue se sustentar sentada. O Joaquim está quase lá! Ele fica sentadinho um bom tempo, mas ainda desequilibra um pouco, o que me dá mais um tempinho pra amadurecer a ideia.

E aí descubro que a questão é exatamente essa. Nem é tanto se vou dar fruta, cereal ou mandioca; quanto tempo vou evitar carne e cia.; se vai comer tudo orgânico; se vai tomar água com flúor.

A questão é que meu filho vai começar a interagir com o mundo. Não seremos mais só eu e ele.

Pra uma pessoa que, como eu, tem uma natureza controladora, isso não é um detalhe e nem uma festa. Me envergonho um pouco dessa natureza controladora, e me preocupo com ela também, mas não escondo. O Dr. Nilo me ensinou que precisamos conhecer e respeitar nossa natureza.

Eu já tinha pensado um pouco sobre o desmame, mas não imaginei que esse tipo de angústia fosse chegar tão cedo, afinal, não considero a introdução alimentar um desmame, mas estou vendo que é sim um grande passo nessa relação.

Fiquem tranquilos, logo o Joaquim estará comendo vorazmente e eu vou vibrar com isso! Vou adorar preparar as comidinhas dele, fico imaginando as carinhas, a lambança, a alegria!

Mas ainda precisamos de um tempinho. Não há a menor necessidade de apressar as coisas...


domingo, 22 de setembro de 2013

Aventura paulistana

Esses dias fizemos uma grande aventura: fomos à exposição do Sebastião Salgado, Genesis, no SESC Belenzinho.

O papai tinha um trabalho em São Bernardo e pegamos uma carona com ele até o metrô Tatuapé. Pra deixar a aventura mais emocionante, estava chovendo!


Mas a intempérie não nos abalou. Coloquei o nenê no sling (que já tinha sido devidamente amarrado em casa, pois eu amo esse panão, mas lidar com ele na rua é pedir pro bom humor ir embora, ainda mais com chuva!), mochilinha nas costas e lá fomos nós pro metrô. Uma estação e já estávamos no nosso destino.

Consegui comprar um guarda-chuva do camelô na saída da estação (que mãe que sai de casa com chuva e sem guarda-chuva?!) e pé na estrada. Joaquim observava tudo, muito atento e aconchegado no sling. Era difícil saber quem estava mais maravilhado e curioso, se ele, com tanta novidade, ou se os passantes, olhando praquele bebê amarrado na mãe num pano verde, com boné vermelho e olhos azuis. Páreo duro!

Chegamos no SESC ainda com garoa, então fui direto pra exposição "indoor", mas logo na entrada tem umas fotos maravilhosas ao ar livre, que deixamos pro final. Com um pouco de vergonha, pedi pra funcionária do SESC tirar uma foto nossa. Eu tinha que registrar aquele momento tão especial por tantos motivos: a exposição em si, nossa aventura e a véspera de seis meses do Joaquim.


Logo em seguida virei o Joaquim de frente, pra ele ver as fotos também :) Não resisti e tirei algumas fotos nossas, "lutando" com a câmera do celular, pois preciso de umas dez pra conseguir um ângulo razoável em uma. O resultado até que ficou bacana!

A exposição está dividida em três salas: Sul do Planeta, África e Santuários. O bom de visitar em plena terça-feira é que estava bem vazia, mas por outro lado tinha várias excursões de escolas, então de tempos em tempos entrava uma nuvem de adolescentes e dava uma atravancada. Nem preciso dizer que o Joaquim chamava mais atenção que as fotos...

Olha que foca divertida! Feliz moradora de alguma ilha gelada da Antártica.

Mulher africana carregando seu bebê às costas e mulher americana carregando seu bebê à barriga!

Essa simpática onça pantaneira está nas fotos "outdoor", que são uns paineis lindos, contemplando imagens das Américas.

Consegui ver as fotos com calma e muita emoção. Na verdade, acabei não me demorando muito, porque senão corria o risco de entrar em colapso, tamanha era a beleza e a fragilidade retratadas naquelas cenas em preto e branco. Mistura de uma alegria imensa por saber que esses povos, bichos e lugares existem. Mas também uma agonia por incluir quase que automaticamente o "ainda" na frase anterior.

Quero comprar o livro - R$ 150,00 em 5x no cartão ;) - e só não o fiz porque não daria conta de carregar bebê, mochila e aquele livrão, tão lindo quanto pesado.

Mesmo sem me demorar muito, lá pelas tantas o bebê quis mamar e botei o peito de fora por ali mesmo, com ele preso ao sling, enquanto eu acabava de ver as fotos. Ao terminar, saí e sentei num confortável banco de madeira com vista pra piscina, enquanto o Joaquim continuava mamando. Uma funcionária nos viu e veio num tom muito afetuoso dizer que havia uma sala de amamentação, com um sofá. Eu disse que ali estava bom e ela disse que tudo bem. Fiquei pensando um pouco nessa coisa de amamentar em público e no quanto eu sou desencanada com isso... e o Joaquim também, pois ele não precisa de um lugar tranquilo pra mamar... quando gruda no peito parece que o resto do mundo some!

Logo em seguida fiquei pensando também na maravilha que é o SESC! A estrutura é funcional, espaçosa, linda. E o mais importante: popular e acessível. Dá gosto de ver e de estar e de poder usufruir de um lugar desse.

Sem nem precisar trocar a fralda (nessas horas a fralda descartável é uma mão na roda!), rumamos de volta ao metrô, que já não estava tão vazio. Baldeação na Sé e mais umas estações até a Santa Cruz, onde pegamos um táxi até a casa da tia Carol.

Delícia de aventura, com o melhor companheiro que pode existir! Faltou o papai, é claro, mas a gente vai fazendo o que dá.


A exposição fica até o dia 1 de dezembro e abre de terça a domingo, das 10h às 21h (domingo fecha às 19h30). A entrada é gratuita.
SESC Belenzinho.
Rua Padre Adelino, 1000. Perto da estação Belém do metrô.


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Receita de bolo

Cada vez mais eu vejo que a vida não tem receita. É engraçado, pois vira e mexe eu descubro uma receita ótima, e acho que é A receita, que todo mundo deve usar e que estou diante da fórmula do sucesso e da felicidade. Mas as pessoas são tão diferentes, cada fase é tão diferente... não dá pra estabelecer fórmula.

Nada mais eficiente pra mostrar isso do que a maternagem. Existem infinitas formas de maternar e essa descoberta é um alívio, pois cada configuração familiar precisa de uma forma própria. Simplesmente não dá pra dizer que tem-que-ser assim ou assado. Desde a gravidez: o que come, que exercício faz, se é que faz, se trabalha, se estuda, se borda. Também vale pro parto: se sai por cima ou por baixo, com anestesia ou sem, no hospital, em casa ou no mar (alguém aí viu as fotos da pessoa que pariu os QUATRO filhos no mar?! Adianta ficar com inveja ou achar o fim da picada?).

Aí começa a brincadeira, porque até então era só ensaio. Como mama, como dorme, o que veste, onde anda, como dá banho, como come, com o que brinca, com quem fica, o que estuda, onde estuda e por aí vai.

A maternagem tem sido pra mim um constante estudo e um importantíssimo exercício de tolerância. Um exercício de entender que cada um tem a sua história.

Só que não é por isso que eu vou calar, inclusive porque falar - ou escrever - me ajuda a entender melhor. Aqui nesse espaço você conhece a forma como eu materno, a forma como eu gostaria de maternar. Ficarei feliz se servir de inspiração, mas ficarei mais feliz ainda se servir pra mostrar que existem infinitas formas e que só você é capaz de definir a sua.

E pra quem ficou com água na boca ao ler o título, segue minha receita favorita, que é muito especial porque foi desenvolvida por mim! Juntei umas três receitas, tirei isso, coloquei aquilo, mexi com carinho e levei ao forno. Contempla variações, lembrando que nem pra bolo existe receita fixa ;)

Bolo de aveia

- 1/2 xícara de uva passa (ou outra fruta seca)
- 2 copinhos de iogurte natural (comprado ou feito em casa)
- 1 xícara de açúcar (pode ser mascavo)
- 1 xícara de aveia em flocos finos (ou inteiros, mas se der uma batida no liquidificador antes é capaz que fique melhor)
- 1 e 1/2 xícara de farinha de trigo integral (ou da branca)
- 1/2 xícara de óleo vegetal (uso de girassol, mas pode ser qualquer outro)
- 1/2 colher de sopa de bicarbonato de sódio (pode ser 1 colher de fermento em pó)
- 1 pitada de sal (dizem que realça o sabor...)
- especiarias a gosto: noz moscada, canela, cardamomo, gengibre em pó
- fica uma delícia se acrescentar 1/2 xícara de alguma castanha picada (avelã, castanha do pará ou de caju)

Bater tudo na batedeira (ou à mão), colocar em uma forma de bolo inglês (ou outra que prefira) e assar em forno médio (ou alto, ou baixo, depende do seu fogão). Por quanto tempo? Sinta o cheiro, cutuque, perceba a cor e resolva!

domingo, 8 de setembro de 2013

Joaquim, se eu soubesse que era você que estava lá dentro, teria sido tudo tão diferente...

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Sei que nada será como antes

Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes, amanhã

Imagino que seja comum entre as mães uma vontade de conseguir voltar a fazer - ou ser - algumas coisas que fazia - ou era - antes da chegada do filho.

Começa pelo corpo. Já voltou ao peso? A roupa já serve? Quando essa pança vai embora? O peito doi? Menstrua? Cai cabelo?

Mas o principal ponto acho que é a autonomia (inclusive pra poder cuidar do corpo!). Quando terei o livre arbítrio (ou a ilusão de) sobre a minha rotina?! Quando poderei novamente colocar as minhas vontades em primeiro lugar?

Sinceramente, aqui do alto dos meus cinco meses de atividade materna, desconfio que a resposta seja NUNCA. Ou, num horizonte mais otimista: quando os filhos forem pra faculdade, rs... ou saírem da faculdade... ou arrumarem o primeiro emprego... até começar tudo de novo quando chegarem os netos!

Mas nessa dicotomia entre ser uma nova pessoa e querer voltar a ser quem se era vejo dois extremos igualmente nocivos: as mães que forçam uma volta da autonomia, criando carências nos filhos, e as mães que se doam exageradamente ao ofício materno, sufocando necessidades pessoais que, mais cedo ou mais tarde, explodirão.

Que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração
Amanhã ou depois de amanhã
Resistindo na boca da noite um gosto de sol

A meu ver, a forma de evitar qualquer um desses extremos é o autoconhecimento, a auto-observação. É trazendo consciência para cada gesto, ainda mais quando a decisão de ter um filho foi feita de forma planejada, mas mesmo que não tenha sido, nunca é tarde pra tomar uma atitude consciente.

Antes de querer forçar a volta de uma autonomia, é bom refletir sobre o que essas pequenas vidas, que dependem de cada uma de nós, representam. Vale a pena considerar que alguns sacrifícios nos primeiros meses podem representar um aporte de segurança e autoconfiança para toda uma vida (que podem inclusive te dar mais autonomia, por ter um filho seguro e autoconfiante).

Eu diria que até os seis meses não há motivo pra pressa. É pra isso que existe licença maternidade. Nada melhor do que ficar lambendo a cria. Todo o resto pode esperar!

Eu digo seis meses porque é o tempo recomendado para amamentação exclusiva, mas claro que outros fatores podem e devem ser levados em consideração, inclusive se você não tem licença maternidade, ou ela é menor.

Por outro lado, mesmo nessa fase de doação completa, onde todo o resto pode esperar, não quer dizer que a mãe vá esquecer de si mesma, muito pelo contrário. Estar bem é condição fundamental para cuidar de alguém. Faz parte dos desafios maternos incluir pequenos cuidados para si na rotina diária. Um banho mais demorado, um creme, uma ida ao cabeleireiro, comprar uma roupa, cuidar da casa (enquanto parte legal de "arrumar o ninho", não como escravidão doméstica de lava-limpa-arruma).

A importância desses cuidados está também no exemplo que é dado ao filho. Um filho (ou filha) que cresce vendo a mãe se anular, vai aprender a ignorar suas próprias vontades, vai aprender que cuidar de si "não é importante". E pode ainda ser vítima de um certo amargor que acaba ficando por trás da entrega exagerada da mãe, o que a longo prazo pode se transformar nos mais diversos desequilíbrios e patologias - para ambos.

Resumindo: tudo bem querer voltar ao que era, tudo bem querer cuidar plenamente do filho, desde que as vontades e seus reflexos sejam conscientes. O problema não é expressar o cansaço, mas não se dar conta dele. E assim ele vai crescendo, crescendo, até que seja impossível não notá-lo, mas quando chegar nesse ponto, é possível que nem se lembre mais por que ele começou...


Nossa primeira aventura solo com mamãe motorista! Ter quatro rodas é uma baita de uma autonomia ;)