quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Nenê nasce

Uma história recorrente que as ativistas do parto humanizado contam é quando o médico fala: "não se preocupe com o parto. Vai cuidar do quartinho do bebê que do parto cuido eu".

No começo achava tão absurdo que chegava a duvidar que realmente acontecesse... mas, ao ter que pensar concretamente em parto, exames, médicos e hospitais, juro que o que eu mais queria era ter alguém "resolvendo" isso pra mim e que eu pudesse ficar só com a parte boa: decorar o quarto, comprar enxoval, fazer roupinhas, organizar chá de bebê e por aí vai.

Mesmo porque ficar só com a parte boa é impossível, uma vez que tudo acontece dentro de mim e não tem como delegar os enjoos, as azias, o sobrepeso (sim, eu sou magrinha e todos falam que não engordei nada, mas estou 20% acima do meu peso habitual, coisa inédita nessas minhas 3 décadas de vida!).

Isso sem falar nos "não posso porque estou grávida". Nada de sauna, adeus bicicleta (embora eu tenha até recomendação pra andar de bicicleta, mas me sinto uma pata choca com medo de cair...), andar a cavalo (não que eu seja uma amazona, mas parece que justo quando a gente não pode as oportunidades aparecem!), freio nas viagens... e ainda tem as broncas por carregar uns pesinhos de nada ou subir num banquinho pra pegar uma coisa no armário.

Aí tem também os "tenho que [...] porque estou grávida". Essa parte é a pior, pois são coisas que normalmente eu curtiria (comer bem, fazer exercícios, fazer yôga, meditar, respirar, cantar, dançar), mas que de repente ficaram carregadas de um peso desmotivador...

Eu bem que merecia ter sossego pra "brincar de mãezinha". Mas não. Preciso avaliar, preciso fazer escolhas, preciso desconfiar dos médicos e preciso também confiar neles. Preciso assumir que quem sabe do meu corpo é alguém que mal o conhece. Preciso me render a aparelhos para saber se meu filho está bem. Preciso me curvar a planos de saúde, prazos e contratos inflexíveis. Preciso engolir que em uma sociedade artificial e artificializada não dá pra ficar nas mãos (ou no colo) da natureza.

Pelo menos eu tenho a Vilma, que repete incansavelmente seu mantra: nenê nasce. A despeito de qualquer preparativo, nenê nasce.