domingo, 31 de março de 2013

Sobre nascimentos e besouros



Joaquim, foi logo no começo da sua vida dentro do útero que seu pai apareceu em casa com um besouro. Um besouro diferente, grande, bonitão - esse aí da foto. Ele falou que ia guardar pra você e assim começou uma coleção, pois os bichinhos foram aparecendo e estão todos numa caixinha que um dia você vai ganhar (e que até lá pode se transformar numa caixona, pois a coleção não para de crescer!).

Eu também me animei com a coleção e estou sempre de olho, porque aqui em casa tem muito bichinho. Só que uma regra é que só entra o bichinho que a gente encontrar morto, pois é claro que não vamos sair por aí matando besouros por capricho. Uma vida é sempre uma vida, não importa o tamanho.

E começando a prestar mais atenção nos besouros, acabava encontrando muitos virados de barriguinha pra cima, sem conseguir se virar de volta. Aquela situação me dava a maior pena e eu virava ele, mas sem me conformar com essa "falha de projeto" da natureza! Como pode um bicho ficar numa posição da qual ele não consegue sair!? Se não aparecer ninguém pra ajudar, ele morre. E tanto morre que estamos fazendo uma coleção!

E foi essa coleção, filho, que me ajudou a entender o nosso nascimento. Nós somos dois besourinhos :)

No dia que você escolheu pra nascer nós ficamos um bom tempo que nem os besouros, virados de barriguinha pra cima e sem conseguir sair do lugar. Mas felizmente alguém passou por ali, viu nossa aflição e nos deu um peteleco!

Levar um peteleco não é lá a coisa mais legal do mundo, mas depois que passa o susto e a gente vê que pode andar de novo, que acabou aquela agonia, aí é um grande alívio e uma grande felicidade. E a felicidade de olhar pro lado e ver que você está andando junto comigo, ah, essa realmente não tem tamanho!

Hoje eu entendo que essa "incapacidade" dos besouros não é uma falha de projeto, mas uma evidência de que estamos todos interligados; um lembrete de que não podemos fazer tudo sozinhos; um aviso de que é preciso saber pedir - e aceitar - ajuda; e aprender essa lição pode significar a diferença entre a vida e a morte.

Então, Joaquim, o que eu desejo é que sempre que você estiver numa situação difícil, aparentemente sem solução, sem conseguir enxergar o horizonte, que nesse momento uma alma solidária apareça e mude sua posição. Assim, sem perguntas, sem “mas” nem “por que”. E você, filho, saia então seguindo seu caminho, também sem perguntas, sem “mas” nem “por que”, simplesmente porque essa é a teia da vida.


Escrever sobre uma cesariana não é tarefa fácil quando se quer contar uma história bonita. Não há romantismo, o cenário é frio e não tem muito o que “inventar” pra fugir disso. Mas nos primeiros instantes em que fiquei a sós com o Joaquim, enquanto me recuperava da anestesia, eu prometi pra ele que iria escrever uma história bonita pra contar seu nascimento. Porque ele merece ter uma história bonita!

quinta-feira, 21 de março de 2013

Notícias do Joaquim



Joaquim nasceu no dia 18 de março de 2013, uma segunda-feira, no último dia da lua nova e um dia antes de completar 40 semanas de gestação. Ele chegou às 19h20, através de uma cirurgia cesariana. Antes que perguntem, digo que ainda não estou pronta pra falar sobre isso, pois meu grande sonho era ter um parto natural. De qualquer forma, a única coisa que importa agora é que ele está bem e está comigo desde o instante em que nasceu. Então vamos falar sobre o que importa!

Meu menino nasceu bem, ganhando notas máximas em todas as avaliações, pesando 3.760g e medindo 52cm. Sua primeira sugada já foi perfeita, forte, abocanhando todo o mamilo, fazendo aquele vácuo e mostrando a que veio! O principal ele já nasceu sabendo e os detalhes estamos aprendendo juntos e com a ajuda das nossas fadas.

E por falar em fadas, Joaquim chegou cercado de mulheres! A equipe inicial já era estritamente feminina (obstetra, parteira, doula e neonatologista – ainda vou falar sobre elas, mas agora nosso pequeno sol ofusca qualquer estrela...) e a equipe que se agregou depois continuou assim (anestesista, médica auxiliar e enfermeiras). Até as responsáveis pela certidão de nascimento dele são mulheres! Claro que nada disso foi premeditado e não tenho nada contra a presença masculina, só achei curioso.

Mas voltemos ao que importa. A primeira noite de vida fora do útero o Joaquim passou no meu colo. A noite toda! Virando de um lado pro outro pra alternar as mamadas, dando um chorinho de vez em quando, só até acertar o alvo e ajeitar a boca no peito. Dormimos juntos e sim, eu consegui dormir. Foi a coisa mais deliciosa do mundo ficar assim tão juntinho. E é engraçado pensar que agora que ele está do lado de fora eu me sinto mais junto dele...

De manhã ele tomou um banho de gato, uma coisa assim bem meia boca, mas eu expliquei pra ele que o banho de verdade seria em casa. Eu também tomei banho, escovei os dentes e comi numa boa, pois o papai leva muito jeito e os dois se entendem perfeitamente!

As primeiras visitas foram das vovós, vovôs, tios, tia Carol e da priminha Clara, que veio toda quietinha dar as boas vindas pro novo companheiro.

Felizmente foram só duas noites no hospital (as duas no meu colo, ai que delícia!) e ontem já viemos pra casa. Essa primeira noite na nossa toca também foi tranqüila, sem choro e com muita mamada.

Agora sim tivemos nosso primeiro banho e, mesmo com toda a inexperiência dos pais, foi aprovado. Aliás, cada vez mais eu tenho certeza de que o Joaquim escolheu nossa família a dedo e com muita consciência. Enquanto a gente troca, ele fica olhando, como quem pensa “ok, eu sei que vocês não tem prática, mas fiquem tranquilos, eu tenho paciência!”.

domingo, 10 de março de 2013

A mãe recém-nascida

A mãe recém-nascida é tão frágil, indefesa, inexperiente e necessitada de cuidados quanto o bebê que a fez nascer. Só que infelizmente poucos se dão conta disso... e, mais infelizmente ainda, entre esses poucos nem sempre está a própria mãe, pois é comum que ela não tenha consciência desse seu estado.

E isso não tem a ver com o fato de ser uma mãe "totalmente nova" ou já com certa experiência. A mãe que nasce é a mãe daquele bebê e, por mais que ela tenha outros filhos, será sempre uma nova mãe. Como diz a Vilma, "de dentro pra fora é sempre a primeira vez". Pode ser, é claro, que a mãe recém-nascida tenha ajuda da mãe um pouco mais vivida que a habita, mas isso geralmente vai se restringir a uma maior desenvoltura com fraldas, roupinhas e malas... desafios novos sempre haverão e nos âmbitos mais sutis.

Vejamos então como é essa dupla - mãe e bebê recém-nascidos. Frágil, indefesa, inexperiente, mas não 100%, afinal, a natureza cuida de nós e quer que sobrevivamos. Um bebê é frágil, mas ao mesmo tempo pode ser extremamente forte em seu instinto de sobrevivência, por mais que isso lhe custe sequelas... enfim, sabemos de bebês que sobrevivem às condições mais adversas e, segundo a Laura Gutman, todos nós somos, em última análise, sobreviventes. Assim são também as mães recém-nascidas. Elas podem ser muito frágeis, mas também são dotadas de uma força que as impulsiona.

Seguindo esse raciocínio eu diria que um bebê é semi-indefeso, porque por mais que ele não possa sequer virar de lado, quanto mais "sair correndo", ele tem seu choro, que é seu grande trunfo, sua única defesa, seu único modo de expressar incômodo, insatisfação, medo, fome, dor, tristeza, angústia. Fica ao observador o desafio de decodificar esse choro para poder tomar a medida necessária ao seu alento. E a mãe recém-nascida, qual é seu grande trunfo? O que a torna "semi-indefesa"? Seu instinto. Igualmente misterioso e de difícil tradução, mas igualmente vital. E, da mesma forma que o choro, igualmente trágico quando ignorado.

A inexperiência é a questão mais fácil de resolver, desde que se tenha paciência e consciência de que os grandes monstros do começo viram carneirinhos depois de um tempo. Não pelo tempo, mas pela persistência, pela observação, pela repetição, pela vontade de melhorar e tornas as coisas mais fáceis.


E os cuidados? Se as características anteriores tinham cada uma um componente que as amenizasse, não se pode dizer o mesmo quanto aos cuidados. Um bebê recém-nascido precisa de cuidados 100% do tempo e assim é também com a mãe recém-nascida. E de que cuidados ela precisa?

Em primeiro lugar, ela precisa de espaço para aprender a ser mãe. Ela precisa estar focada em sua nova tarefa e pra isso quanto menos demanda que não tenha a ver com isso, melhor. Trabalho e tarefas domésticas, principalmente. Winnicott fala que "um bebê não existe sozinho; ele existe com sua mãe". Eu, modestamente, iria um passo além: "uma mãe não existe sozinha; ela existe com sua comunidade".

Se a mãe recém-nascida precisa de espaço para aprender a ser mãe e para cuidar de fato de seu bebê, alguém precisa cuidar de todos os "detalhes cotidianos", tais como onde ela vai morar (paga-se um aluguel? quem paga?), o que ela vai comer (quem sai para comprar? quem paga? quem prepara?), quem limpa a casa, quem lava as roupas, quem se encarrega dos outros filhos, quem se encarrega dos bichos de estimação, quem cuida das plantas. Não digo que não seja possível a uma mãe recém-nascida sobreviver sem que alguém se encarregue de todas essas coisas, mas qualquer falha seria não ter cuidados 100% do tempo, o que traz sequelas proporcionais às lacunas (pense no que pode acontecer com um bebê que não tem cuidados 100% do tempo...).

Então ok, imaginemos que a comunidade (marido, mãe, sogra, irmãs, cunhadas, amigas, empregados e empregadores), dê conta dos detalhes cotidianos, isso basta? Não, não basta. Na verdade, o espaço mais importante que a mãe recém-nascida precisa é o espaço de deixar com que seus instintos se manifestem. De nada adianta não ter afazeres domésticos, se o espaço é preenchido por palpites, "orientações", julgamentos e críticas. Quem sabe do bebê é a mãe e ela saberá quando e onde pedir ajuda. E se você for o depositário dessa confiança, se a mãe te procurar para pedir ajuda, esteja atento, ouça e procure ser o mais objetivo possível na ajuda oferecida, ou seja, ajude no que for pedido e não que você acha que deveria fazer. Se não estiver apto a dar a ajuda pedida, diga. Ajudar a encontrar ajuda também é uma grande ajuda!

Mais uma vez a Laura: uma mãe saudável tem total capacidade de cuidar de seu filho. Por mais cansada que esteja, ela pode nutrir, trocar fraldas, dar banho, vestir, ninar. Se você quer ajudar uma mãe, principalmente a mãe recém-nascida, não se ofereça para dar banho no bebê; ofereça-se para lavar a louça.

E se a mãe não for/não estiver saudável? Aí sim é necessária alguma intervenção, mas não é cuidando do bebê que você vai resolver... é cuidando da mãe...


Esse texto foi inspirado em um outro, publicado no Blog Minha Mãe Que Disse: "Quando nasce um bebê, nasce uma mãe. Será?", de autoria da Shirley Hilgert, que também escreve no Macetes de Mãe. Portanto o "mote" foi dela, mas me deu vontade de aprofundar o tema com base nas leituras que venho tendo. Ainda não posso dar o "meu testemunho", mas isso pouco importa ;)