quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Rebento

Rebento
substantivo abstrato
O ato, a criação, o seu momento
Como uma estrela nova e o seu barato
que só Deus sabe, lá no firmamento
Rebento
Tudo o que nasce é Rebento
Tudo que brota, que vinga, que medra
Rebento raro como flor na terra,
rebento farto como trigo ao vento
Outras vezes rebento simplesmente
no presente do indicativo
Como as correntes de um cão furioso,
ou as mãos de um lavrador ativo
às vezes mesmo perigosamente
como acidente em forno radioativo
Às vezes, só porque fico nervoso, rebento
às vezes, somente porque estou vivo!
Rebento, a reação imediata
a cada sensação de abatimento
Rebento, o coração dizendo: Bata!
a cada bofetão do sofrimento
Rebento, esse trovão dentro da mata
e a imensidão do som nesse momento


Pode ser na voz do Gil, lindo e luminoso, ou na voz da Elis, naquele disco gravado em Montreaux, poderosa e arrebatadora!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O preço de um filho

Quanto custa um filho? Em valores monetários mesmo, não estou me referindo aos lucros e dividendos metafísicos da empreitada.

Pois eu tenho visto por aí que as pessoas do meu convívio socioeconômico - a tal da classe média?! - acham que um filho custa muito caro... tenho a impressão que não tão caros a ponto de abrir mão, mas caros o suficiente para "se contentar com um".

Não quero fazer apologia à explosão demográfica, mas algumas posturas de pais de filhos únicos tem me assustado um pouco. O argumento de que não dá pra ter outro filho porque "filho é muito caro" me entristece profundamente. Quando dizem então que preferem ter apenas um filho, mas dar-lhe tudo do bom e do melhor, ao invés de ter mais e fazer malabarismos, fico ainda mais chateada... será que essas pessoas - que invariavelmente tem irmãos - passaram por tantas privações assim? Será que cresceram pensando "se não tivesse que dividir os presentes com meu irmão já poderia ter uma bicicleta só pra mim"? Ou ainda: "se meus pais não tivessem que pagar duas mensalidades na escola eu teria estudado numa escola melhor e hoje seria `alguém na vida´"?

Bem, se passaram por esse tipo de questionamento, angústia e aflição, desculpem-me, mas o que precisam é de um terapeuta e não da fórmula de que "um filho eu posso bancar, mas dois não".

E se não passaram, por que se preocupar? Falo agora a esses, pois com os do primeiro grupo não tenho formação suficiente para dialogar.

Qual a importância que seus irmãos tiveram, tem e com certeza terão em sua vida? Quantos brinquedos uma simples companhia de irmão economiza? Desde quando "escola boa" é garantia de alguma coisa?

Sei que os tempos são outros e que as escolas públicas - onde muitos de nós estudamos - parecem não ser mais uma opção viável, mas é isso, hoje, que vai fazer com que você prive seu filho da melhor companhia que ele possa vir a ter? Como quantificar o valor da cumplicidade, do apoio e da identificação entre irmãos?!

Se você não quer ou não pode ter mais filhos, tudo bem, é seu direito, mas dizer que filho custa caro e por isso só terá um, pra mim chega a ser pecado. E claro que não estamos falando de pessoas miseráveis... estamos falando de pessoas que tem dois carros na garagem - muitas vezes própria, que tem o celular do ano, que tem uma TV que ocupa 70% da parede da sala, que fazem viagens internacionais, que usam roupas de grife, que conhecem bons restaurantes.

Assim pode ser que criar um filho seja realmente caro, passando pra ele desde cedo padrões alucinados de consumo, que muitas vezes são confundidos e justificados como sendo "conforto e segurança". Báh! Se tem coisa que o dinheiro não compra é conforto e segurança! Você pode ter a melhor casa, com os móveis mais aconchegantes, mas se estiver triste, se não tiver companhia, se não tiver amor, isso não vai adiantar NADA. Quanto à segurança, nem contra a violência, nem um seguro-saúde, nem as melhores escolas, nada disso é resolvido com dinheiro quando a coisa resolve entornar de fato.

E o que evita que as coisas entornem? Adivinha? Amor, companhia, apoio de pessoas queridas, cumplicidade, uma estrutura familiar feliz e bem resolvida. E hoje em dia, caro leitor, isso sim que é luxo... esse amor e essa estrutura familiar feliz e bem resolvida (veja bem, nem estou falando que os pais tem que ser casados e viver juntos... pode estar cada um na sua, com novos companheiros, novos filhos, mas de forma saudável, amigável, terna, enfim, bem resolvida!). E é esse legado, essa base, que é algo realmente valioso para construir para os filhos. Não tem nada a ver com aula de inglês, natação e Kumon, badulaques, penduricalhos, jogos eletrônicos e outros artefatos que só servem pra gastar energia e poluir o planeta.

Não sei quantos filhos terei, não sei quanto custa um filho, mas não são os valores monetários que me guiarão, assim como não são eles que me guiam em âmbitos muito menos nobres da minha vida.