quarta-feira, 9 de novembro de 2011

X - Conheci a Vilma!

Ontem fui a uma palestra da Vilma Nichi, enfermeira obstétrica e parteira. A atividade foi na Morada da Floresta, um espaço bem bacana de difusão de práticas sustentáveis e afins, que também tem um grupo de apoio à gestante.

Quem me falava muito da Vilma era o Dr. Edison, pois eles trabalhavam juntos. Na época comentei com a Carol, que estava grávida, e ela disse "nooooooossa, a Viiiiiiillllllmmmmaaaa!", pois já estava enturmada com o pessoal do parto natural, onde o nome Vilma Nichi é bem conhecido. E agora, finalmente, surgiu a oportunidade de conhecê-la. Lá fui eu.

Eu adoro essas situações de ler ou ouvir algo e sentir "claro, é isso mesmo!". Em alguns casos, se me perguntassem antes eu não conseguiria elaborar daquela forma, mas é só ouvir pra sentir o eco lá dentro. Em outros casos, tudo o que a pessoa diz eu já sabia mesmo, mas como é bom ouvir de novo!!! Com a Vilma foi assim.

E o melhor de dialogar com alguém que fala coisas que você "já sabia" (sabendo ou não elaborar isso de forma concreta) é o sentimento de que "não sou só eu que penso assim", "minhas ideias são compartilhadas", "arre égua, não estou sozinha no mundo"! Quando essa pessoa é um formador de opinião, alguém que tem um raio de abrangência um pouco maior que a média, a explosão de sentimentos cumina em "sim, há uma luz no fim do túnel!". Com a Vilma foi exatamente assim.

Ela falou basicamente da importância de ser mulher. Frisando que o discurso era para um público urbano paulistano, ela alertou quanto ao excesso de intelectualização da mulher, que nos afasta de nossos instintos e saberes interiores.

Achei muito bonito quando ela disse que as mulheres precisam arredondar-se, buscando uma interação mais orgânica e fluida com o próprio corpo e com a movimentação. Sugeriu que dancemos, que busquemos a água.

Cutucou também algumas mães mais afoitas, que com 7, 8 semanas de gestação estavam pensando em parto. Nesse período é preciso pensar a gravidez, e não o parto. E foi então que me caiu uma ficha: a gestação e o parto são momentos onde o feminino aflora de um jeito único e indiscutível, pois é justamente aí que os gêneros se diferenciam da forma mais básica e clara. Continuando no âmbito das mulheres urbanas e "masculinizadas" em seus deveres e afazeres, algumas conseguem se dar conta dessa necessidade de retorno ao feminino durante a gestação, outras no momento do parto, outras ao amamentar. E muitas outras, infelizmente, ou passam batido, ou colocam uma rolha em cima do que deveria ser essa vivência plena do ser mulher.

Quando a Vilma falou dessas mães que focam o parto desde que sabem que estão grávidas, fiquei quietinha, pois eu nem grávida estou e fui atrás de ouvir uma parteira... só que ela continuou falando e então entendi o que eu estava fazendo lá. Eu não estava em busca de entender o parto, mas de aprender a ser mulher, cujo ícone acaba sendo seu diferencial em relação ao homem: parir.

De repente a névoa se dissipou e tudo ficou muito claro. Eu tenho sido chamada há muito tempo para vivenciar esse feminino, mas por N motivos os caminhos foram se desviando... a sensação que eu tenho é que "alguém" em dado momento segurou a minha cabeça e apontou na direção mais óbvia e indiscutível. Consigo até ouvir: "veja, é isso que diferencia o homem da mulher, que tal começar por aí?!".

E finalmente entendi que não preciso chegar até o parto, ou mesmo numa gestação, pra perceber que o cultivo do feminino é importante, vital e deve ser constante.

Não quero me preparar para um parto. Quero ser mulher.