quarta-feira, 9 de novembro de 2011

X - Conheci a Vilma!

Ontem fui a uma palestra da Vilma Nichi, enfermeira obstétrica e parteira. A atividade foi na Morada da Floresta, um espaço bem bacana de difusão de práticas sustentáveis e afins, que também tem um grupo de apoio à gestante.

Quem me falava muito da Vilma era o Dr. Edison, pois eles trabalhavam juntos. Na época comentei com a Carol, que estava grávida, e ela disse "nooooooossa, a Viiiiiiillllllmmmmaaaa!", pois já estava enturmada com o pessoal do parto natural, onde o nome Vilma Nichi é bem conhecido. E agora, finalmente, surgiu a oportunidade de conhecê-la. Lá fui eu.

Eu adoro essas situações de ler ou ouvir algo e sentir "claro, é isso mesmo!". Em alguns casos, se me perguntassem antes eu não conseguiria elaborar daquela forma, mas é só ouvir pra sentir o eco lá dentro. Em outros casos, tudo o que a pessoa diz eu já sabia mesmo, mas como é bom ouvir de novo!!! Com a Vilma foi assim.

E o melhor de dialogar com alguém que fala coisas que você "já sabia" (sabendo ou não elaborar isso de forma concreta) é o sentimento de que "não sou só eu que penso assim", "minhas ideias são compartilhadas", "arre égua, não estou sozinha no mundo"! Quando essa pessoa é um formador de opinião, alguém que tem um raio de abrangência um pouco maior que a média, a explosão de sentimentos cumina em "sim, há uma luz no fim do túnel!". Com a Vilma foi exatamente assim.

Ela falou basicamente da importância de ser mulher. Frisando que o discurso era para um público urbano paulistano, ela alertou quanto ao excesso de intelectualização da mulher, que nos afasta de nossos instintos e saberes interiores.

Achei muito bonito quando ela disse que as mulheres precisam arredondar-se, buscando uma interação mais orgânica e fluida com o próprio corpo e com a movimentação. Sugeriu que dancemos, que busquemos a água.

Cutucou também algumas mães mais afoitas, que com 7, 8 semanas de gestação estavam pensando em parto. Nesse período é preciso pensar a gravidez, e não o parto. E foi então que me caiu uma ficha: a gestação e o parto são momentos onde o feminino aflora de um jeito único e indiscutível, pois é justamente aí que os gêneros se diferenciam da forma mais básica e clara. Continuando no âmbito das mulheres urbanas e "masculinizadas" em seus deveres e afazeres, algumas conseguem se dar conta dessa necessidade de retorno ao feminino durante a gestação, outras no momento do parto, outras ao amamentar. E muitas outras, infelizmente, ou passam batido, ou colocam uma rolha em cima do que deveria ser essa vivência plena do ser mulher.

Quando a Vilma falou dessas mães que focam o parto desde que sabem que estão grávidas, fiquei quietinha, pois eu nem grávida estou e fui atrás de ouvir uma parteira... só que ela continuou falando e então entendi o que eu estava fazendo lá. Eu não estava em busca de entender o parto, mas de aprender a ser mulher, cujo ícone acaba sendo seu diferencial em relação ao homem: parir.

De repente a névoa se dissipou e tudo ficou muito claro. Eu tenho sido chamada há muito tempo para vivenciar esse feminino, mas por N motivos os caminhos foram se desviando... a sensação que eu tenho é que "alguém" em dado momento segurou a minha cabeça e apontou na direção mais óbvia e indiscutível. Consigo até ouvir: "veja, é isso que diferencia o homem da mulher, que tal começar por aí?!".

E finalmente entendi que não preciso chegar até o parto, ou mesmo numa gestação, pra perceber que o cultivo do feminino é importante, vital e deve ser constante.

Não quero me preparar para um parto. Quero ser mulher.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

IX - Nadando com as orcas

Outro dia tive um sonho bastante perturbador, bastante revelador. Eu estava nadando no mar, alto mar (não me pergunte como cheguei lá, rs...), com mais alguém que não me lembro quem, quando aparece um "cardume" de orcas. Lembro da sensação de medo, de perigo, afinal, eram "baleias assassinas"! A pessoa que estava comigo disse: "se você ficar quieta elas não farão nada". E assim foi. Fiquei lá, boiando com orcas passando tranquilamente debaixo de mim e ao meu lado, até que foram embora e eu acordei.

Todo mundo sabe que as orcas não são nem baleias e nem "assassinas", mas que devem assustar, ah isso devem! Não faço ideia se numa situação real o conselho da sábia pessoa que estava comigo funcionaria, ou mesmo se seria necessário. Mas o que importa é a mensagem que eu recebi com esse sonho: em determinadas situações de perigo (no sonho eu tinha essa sensação... é diferente de outro tipo de sonho, no qual se brinca despretensiosamente com algo que deveria ser perigoso, mas no sonho não é), o melhor é ser discreto e esperar passar. Óbvio, né? Adianta se meter a valentona contra um bicho de nove toneladas?! (fui ao Google, hehe). O mais provável é mesmo que ele, com toda sua magnitude, com toda a tranquilidade de ser topo de cadeia alimentar, nem note a sua ínfima e desprezível presença e ainda te contemple com uma visão arrebatadora!

Imagina só! Baleias (ops, não são baleias!) nadando à sua volta! É uma cena pra guardar para o resto da vida e contar pra todo mundo, no mínimo! E se eu me assustasse?! E se eu me debatesse?! Bem provável que alguma delas me engolisse sem fazer esforço e aí... bem, e aí "acabou eu"... ninguém vai ouvir a história... a minha história já era...

Outra reflexão que vem junto é saber identificar os perigos, pois diferentes ameaças pedem diferentes reações. Não dá pra aplicar esse aprendizado com as orcas no caso de um incêndio, por exemplo. Aí o melhor é sair correndo mesmo (fugir), tentar apagar se for o caso (enfrentar)... o que não pode é ficar hipnotizada, achando aquilo tudo lindo!

E como fazer para identificar os perigos, saber como agir?! Aguçar a intuição! Ouvir, farejar, sentir...

quarta-feira, 27 de julho de 2011

VIII - O jogador no banco de reserva

Durante todo o meu período escolar as aulas de educação física sempre foram um tormento. Eu não tinha habilidade nenhuma e preferia ficar horas resolvendo equações ou estudando qualquer assunto do que uma única partidinha de voley.

E justamente por essa aversão esportiva eu não entendia quando via os jogadores no banco de reserva, tanto na escola quanto em grandes jogos pela televisão, ansiosos para entrar no jogo logo, olhando para o técnico e gritando mentalmente (ou verbalmente) "deixa eu jogar, deixa eu jogar!". Pra mim isso não fazia sentido. Pra que ir lá pro meio, correr, suar, correr o risco de se machucar?! Tudo o que eu queria era ficar no banco de reserva pra sempre, quietinha, torcendo pro jogo acabar logo!

O que eu não exergava é que, uma vez que você queira entrar em campo, ficar no banco é uma tortura, pois quem está no banco e quer jogar sabe que tem muito a por em prática, quer seja pela equipe, quer seja pelo seu próprio prazer em fazer o que gosta.

Na questão da maternidade eu venho ficando "no banco" há bastante tempo. Primeiro tranquila, recostada lendo uma revista, sem ligar muito pro jogo. Agora a vida de reserva começa a ficar meio tediosa e subitamente o jogo me parece mais interessante.

Só que ao mesmo tempo, eu não posso entrar assim, sem mais nem menos. O tal do técnico precisa olhar pra minha cara e dar um sinal. E quem é esse técnico? Seria a minha razão? Fico ansiosa por saber qual será o momento em que eu, conscientemente, com a autorização do "técnico", vou dizer "ok, agora eu posso engravidar".

quarta-feira, 6 de julho de 2011

VII - Aprender a desaprender

Ontem participei do workshop "Parto: como escapar das armadilhas", ministrado pelo Michel Odent, grande referência das novas formas de entender o parto e tudo que o cerca.

E hoje, "coincidentemente", comecei meu dia lendo um trecho do livro do Rubem Alves, Variações sobre o prazer, onde ele fala da necessidade de "desaprender", como forma de encontrar um caminho mais profundo e verdadeiro de autoconhecimento. Ele cita o Tao-Te-Ching:

Na busca do conhecimento a cada dia se soma algo.
Na busca do Caminho da Vida a cada dia se diminui algo.

Diz ainda que precisamos deixar cair as cascas, antigas, mortas e ressecadas, para deixar ver o tronco liso, sobre o qual a mão desliza com prazer. E o gancho impressionante com as coisas que ouvi ontem é quando ele cita uma atitude que o taoísmo chama de wu-wei: "cessar toda atividade de controle consciente para que a sabedoria natural da vida faça o seu trabalho". Ele complementa: "Para isso é necessário estar muito bem consigo mesmo" e ainda cita Nietzsche: "O homem que está bem sabe como esquecer. Para isso, ele é forte o bastante". Substituido a palavra homem por mulher tem-se uma máxima para os trabalhos de parto!

Uma das principais coisas que o Michel Odent frisou em sua fala é a necessidade de, durante o trabalho de parto, inibir a ação do neocórtex, a região do cérebro ligada ao intelecto e a parte do cérebro mais recente no processo evolutivo. Isso é justificado pela afirmação de que o parto é uma atividade involuntária, regulada por estruturas cerebrais arcaicas e primitivas. E justamente por ser uma atividade natural e involuntária, não é possível "ajudar", mas existem inúmeras formas de atrapalhar, sendo uma das principais o estímulo ao neocórtex.

Esse estímulo se dá principalmente através da linguagem. Quanto mais racional a linguagem, pior, e quanto mais simples a linguagem, menos pior. Portanto, fazer perguntas a uma parturiente é uma ótima forma de atrapalhar seu processo de parto. Falar em centímetros também, pois "liga" a parte racional, que atrapalha o processo instintivo e "animal", fundamental para dar à luz.

Analisando dessa forma, ele diz que a única função da pessoa que acompanha o parto é proteger a mulher, para que ela tenha sossego suficiente e não seja importunada. Ela sabe o que fazer e não precisa de ninguém lhe dizendo faça isso, faça aquilo. Só precisa de sossego.

Na teoria parece lindo e acho que realmente deva ser, mas a realidade mostra situações bem diferentes e é por isso que ele diz que estamos no "fundo do poço" com relação à compreensão do processo de parto e nascimento. Existem condicionantes culturais milenares, em todas as civilizações, que tem levado à ideia de que a mulher precisa de ajuda para parir, embora todos os outros mamíferos mostrem o contrário.

Embasado por descobertas da fisiologia moderna ele propõe então este novo paradigma, do parto como processo involuntário, que precisa nada mais do que proteção. No âmbito da fisiologia são ressaltados então três mecanismos:

1. Antagonismo entre adrenalina e ocitocina: os mamíferos liberam um OU outro hormônio e, uma vez que a ocitocina é indispensável no processo do parto, o desejável é anular a produção de adrenalina. As situações que mais causam produção de adrenalina são medo, sentir-se observado e frio, logo, para dar à luz a mulher precisa se sentir segura, sem ser observada, e estar em um ambiente quente. Quando o nível de adrenalina está baixo, os músculos ficam completamente relaxados, como quando estamos dormindo ou prestes a dormir. Todas as condições para que se tenha um sono tranquilo são antagônicas àquelas em que se produz adrenalina. Logo, algumas recomendações como andar e ficar na posição vertical vão contra essa ideia, bem como estimular que a mulher coma alimentos energéticos. Como ele mesmo disse: "ela não vai correr uma maratona, só vai parir!". Outro mecanismo interessante que ele cita é o dos neurônios espelho. Por trás disso está a afirmação de que estados emocionais são altamente contagiosos e que, portanto, as pessoas que acompanham o parto tem o dever de manter o nível de adrenalida extremamente baixo. Ele diz que as parteiras de antigamente ficavam tricotando, em silêncio, e hoje sabe-se que atividades repetitivas reduzem o nível de adrenalina.

2. Outro mecanismo é o da inibição neocortical, que já foi citado. Há aqui uma necessidade de se desconectar do mundo, esquecer dos livros e dos planos. E a importância de não se sentir observada, pois quando identificamos que tem alguém nos observando, nós nos observamos e isso é trabalho do neocórtex... fisiologicamente falando, existe um hormônio que inibe a ação do neocórtex, que é a melatonina, ou hormônio da escuridão. Este hormônio é secretado quando vamos dormir e quanto maior a intensidade luminosa, menores as chances de ele aparecer. Portando: baixa luz no ambiente de parto!

3. E por fim, a atuação dos hormônios que produzem retenção de líquidos, a vasopressina e a ocitocina (ela de novo!). Provavelmente essa foi a solução da natureza para manter a mulher com a bexiga vazia, pois ela cheia dificulta o parto. Com esses hormônios atuando não há o risco de desidratação no trabalho de parto, já líquidos em excesso pode ser até perigoso e deixar as contrações fracas. Com essa descoberta a conclusão é: "só beber água quando tiver sede!". Neste ponto ele é até irônico, dizendo que a ciência moderna precisa intervir para nos fazer enxergar coisas tão óbvias!

Outra coisa interessante é que o parto só acontece quando a placenta é expelida, portanto a terceira fase do trabalho de parto é o tempo entre o nascimento do bebê e a saída da placenta. Essa última fase requer os mesmos cuidados, a mesma proteção: importantíssimo o ambiente estar quente e proteger a mãe e o bebê de QUALQUER distração. É um momento apenas dos dois e inclusive a presença do pai é questionada. Nesse momento é quando ocorre o pico máximo de ocitocina.

Dada a importância do bebê permanecer junto à mãe nesse primeiro momento é que existe um instinto maternal agressivo de proteção do bebê. Tente tirar um bebê gorila de sua mãe e veja o que acontece! Mas esse instinto tem sido neutralizado pela maioria das culturas, por milhares de anos.

Ele encerra sua fala da manhã dizendo que o futuro da humanidade é um assunto feminino.

O período da tarde foi aberto para perguntas e coisas interessantes foram ditas sobre a participação do pai, que tradicionalmente não acompanhava os partos, que eram âmbito exclusivo das mulheres. Os homens ficavam ocupados com tarefas, como ferver água, e ficavam fora do ambiente de parto.

A participação dos homens começa a ser notada nos grandes hospitais, quando a única pessoa próxima da mulher era o marido e, portanto, ela o requisitava, certamente como forma de sentir-se segura. Ele ainda diz que suas observações mostram que pais que acompanham os partos tendem  a ter uma necessidade de sair da realidade logo após a experiência, o que pode ser notado em doenças e depressões, justamente num momento em que a mulher precisaria de alguém "lúcido" ao seu lado, para proteger o início da relação mãe-bebê, onde são estabelecidos importantes vínculos.

Por fim ele critica o termo "parto humanizado", dizendo que o que difere os seres humanos dos outros animais é sua habilidade em usar instrumentos e que, portanto, o cúmulo do parto humanizado é uma cesariana!

Bem, essa foi praticamente a transcrição das minhas anotações, uma forma de deixá-las organizadas e seguras ;)

Eu sempre gostei muito de aprender, de descobrir coisas novas e agora estou vendo alguns sinais de alerta pelo caminho. Meu novo amigo, o dentista biocibernético Dr. Maurício de Sá Malfate, foi quem me indicou esse workshop e com quem pude compartilhar as sensações em tempo real. Ele mesmo já me alertou do cuidado que preciso ter para não "intelectualizar" demais o processo, da importância de saber "deixar as coisas acontecerem". Ok, estarei atenta ;)

E terminando com a analogia usada pelo Rubem Alves, existe uma diferença enorme entre uma árvore jovem, com sua casca lisa e verde clara, da árvore adulta que trocou de casca. Embora a mesma casca lisa apareça agora, muita coisa aconteceu nesse período! Provavelmente ela está mais alta, exerga mais longe, tem uma estrutura mais sólida e sabe se defender melhor dos ataques das pragas. Logo uma nova casca vai surgir e tornar a cair e surgir novamente!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

VI - A vida vai mudar...

É o que todo mundo fala. Que a vida muda. Isso me assusta, mudanças me assustam, embora eu adore uma mudança e saiba que toda mudança na minha vida é para melhor. Senão, pra que mudar?!

Só que agora fico pensando em como vou me "despedir" dessa vida de ser independente, que faz os próprios horários (ok, nem sempre...), que vai aonde quer (hum, bem... mais ou menos), que come qualquer coisa (qualquer coisa que não tenha carne), que adora uma rotininha, mas que também topa um estilo easy rider de vez em quando.

São então duas perguntas: o que eu quero/preciso fazer enquanto não tenho filhos? E como posso me preparar para as mudanças que virão?

Quando penso na primeira pergunta, penso em viagens. Eu quero fazer uma caminhada de vários dias, tipo Chapada Diamantina ou Serra dos Órgãos. Cinco, sete dias com mochila nas costas, caminhando, acampando, subindo e descendo morro, tomando banho gelado. Não dá pra fazer com filho pequeno, dá?! Ok, não é um caso perdido... quando as crianças estiverem grandinhas, largo elas com alguma vó ou tia e vou. Ou então espero eles crescerem bem e vamos todos juntos... é, pode ser legal.

Ah, tem tanta viagem que ainda quero fazer nesse mundo! E quero muito levar meus filhos pra viajar comigo também, claro.

Queria ter uma experiência fora do país. Não precisa ser muito tempo, nem muito longe. Um mês em Buenos Aires já seria suficiente. Sem filhos é mais fácil, arruma-se lugar pra ficar em casas de conhecidos, tudo fica mais barato. Estou estudando a ideia. Eu não gosto de fazer planos para a "aposentadoria"... quando quero, quero pra já! (quem convive comigo sofre um pouco por causa disso...).

Fora viagens (essas mais "radicais"), não sei o que eu deveria fazer antes de ter filhos, que ainda não tenha feito. Ganhar dinheiro... estudar eu já estudei bastante, por enquanto tá bom. Já morei sozinha. E com amiga, com irmã, em república e com namorado. Já experimentei algumas drogas e felizmente não gostei de nenhuma. Se desse pra acumular sono, eu dormiria :)

Acho que antes de ter filho eu deva me aprofundar mais no Yôga. Imagino que minha prática vá dar uma estagnada e queria parar alguns degrauzinhos acima... sei que isso vai me ajudar a entender e atravessar essa etapa inclusive.

E aqui entramos na segunda pergunta. Como me preparar? Por enquanto, minha grande ferramenta é o Yôga mesmo. Uma caixa de ferramentas, eu diria. Será que dá pra se preparar durante a gestação? Às vezes eu fico aflita achando que 9 meses é muito pouco... mesmo porque quando você se dá conta, já são no máximo 8...

A natureza é sábia. Se é esse o tempo, é esse o tempo. Mas por outro lado fico tentando mensurar o quão longe eu estou da minha natureza e vejo que essa distância precisa ser encurtada, porque senão a gente fica no prejuízo mesmo. Nove meses são suficientes para uma mulher que está conectada com o ritmo da natureza.

Por isso que estou lendo "Mulheres que correm com os lobos". Para encontrar a Mulher Selvagem. Para deixar que a fertilidade aflore, que os instintos se manifestem e que a intuição guie meus atos. Para Ser Mulher.

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21 de setembro de 2013 - Dia da Árvore

Aqui estou eu, mãe há seis meses! Ontem li um texto que adorei, falando justamente sobre essa coisa de querer fazer coisas antes de ter filho, aí lembrei que escrevi esse aqui e resolvi voltar pra ver o quanto eu tinha "viajado" nos meus anseios.

Ah, sim, o texto que li foi publicado no blog Minha Mãe que Disse e foi resposta a um outro texto que listava 20 coisas pra fazer antes de ter filho. Vale a leitura, é muito divertido - adoro mães irritadas!

Vou comentar agora o que escrevi acima, pra quem está pensando em ter filhos ter uma ideia do que acontece "do lado de cá".

Bom, realmente a vida muda, tudo vira de ponta cabeça. Tem muita coisa que pode ser evitada ou amenizada com planejamento, mas tem um forte componente que independe de preparos, a não ser que você se prepare para enfrentar o imprevisível, o novo e o desconhecido. Dá?

Quanto às coisas pra se fazer antes de ter filho, o que posso dizer é filho livra a gente de um monte de roubada, rs... (leia o texto que linkei acima!).

Minha principal preocupação era com as viagens. E lá fui eu pra Trilha Inca, passar quatro dias encharcada, carregando peso, passando frio e vendo paisagem nenhuma, pois chovia ininterruptamente! Se eu tivesse esperado pra fazer com os filhos, não passaria por nada disso, rs... iria com todo conforto, na melhor época e com certeza aproveitaria muito mais! Mas como saber? Claro que não me arrependo de ter ido, jamais me arrependerei de uma viagem! Penso até que fez parte de um certo "purgatório", que pode inclusive ter me livrado de alguns percalços da maternidade, mas aí o papo já é metafísico demais e não cabe aqui...

Quanto à minha vontade de ter uma experiência fora do país... como eu pude me equivocar tanto?! Passei duas semanas em Cusco, estudei espanhol e fiquei com essa vontade satisfeita, mas tenho certeza de que se um dia resolvermos passar um tempo fora com os filhos, a experiência será MUITO mais rica! Nada como ver o mundo a partir dos olhos de uma criança!

Ter dinheiro é bom, mas não é fundamental (leia o texto do blog que falei!). Estudar, morar sozinha ou com variadas pessoas, ter uma vida de baladas... tudo isso é bom, compõe experiência de vida e acho que é bom ter "experiência de vida" pra ter filho, mas na hora que bater a vontade de ter filho, ou se o filho vier meio de surpresa, a experiência que você tem, você tem, não adianta ir atrás, fica artificial. (acumular sono seria uma ótima, mas a ciência não chegou a tanto...).

O aprofundamento no Yôga, a mesma coisa. Eu iria estudar e praticar independente de querer ter filho, e o fato de querer ter filho não tinha como acelerar isso... talvez ajudar na disciplina, mas nada significativo. E a prática dessa filosofia sempre me ajudou muito, ajuda imensamente agora, mas talvez se você for praticar porque acha que ajudará, não ocorra o mesmo com você.

Resumindo: isso de "fazer coisas enquanto não tem filho" não existe! Viva! Esse é o melhor preparo pra conduzir uma nova vida!

Quanto à segunda pergunta, como se preparar, grande parte continua sendo viver plenamente cada experiência, buscar autoconhecimento e evolução pessoal (precisa querer ter filho pra isso?). Essa própria busca te trará o que você precisa saber de mais, digamos, técnico. Cuidados durante a gravidez, preparação para o parto, preparação para o pós-parto, amamentação, alimentação, educação...

Nove meses é tempo pra caramba - oito também.

Mas nunca é cedo - nem tarde - pra buscar aprimoramento e evolução.

V - Mapa astral

Outro dia o Sheldon (o intelectual acadêmico cético do seriado The Big Bang Theory, que eu adoro!) disse, ao conhecer uma moça que foi falando qual era seu signo: "ah, você também participa desse delírio coletivo que acha que a posição dos planetas no dia do seu nascimento influencia a sua vida". Bom, eu não acho assim tão delírio...

O Dr. Edison falava que o ser humano é um ser cósmico e não apenas terreno, como os outros seres que habitam a Terra. Vendo por esse lado eu acho sim que a posição dos planetas pode interferir no comportamento humano, uma vez que nós somos feitos por material terreno, mas também por material cósmico (ou o que quer que isso signifique, rs...).

Claro que existem os exageros, as interpretações equivocadas, os fanatismos... como em tudo na vida. Bem, eu sou taurina, com ascendente em Libra e lua em Câncer. Já sabia disso há um tempo, mas hoje achei uma explicação pra lua em câncer que me deixou especialmente feliz e esperançosa quanto ao sucesso da jornada que pretendo iniciar:

Lua em Câncer   As Suas relacões emocionais.

Se você possui esta Lua e for mulher, você é uma mãe do tipo tradicional: afável, amável, acolhedora e carinhosa. É a mãe colo, a mãe útero, a mãe ideal. Com esta Lua você é sentimental, apegado ao passado, sempre lembrando alguma receita de sua mãe, sempre rodeado de fotografias da família. Se sua Lua estiver afligida pode indicar problemas familiares, muita suscetibilidade ao meio-ambiente, se deixando influenciar facilmente pelas opiniões alheias. Aflita, esta Lua pode exprimir medo, timidez, dificuldade de demonstrar sentimentos e emoções. Assim você poderá se fechar em si mesmo(a), numa concha, para se proteger das ameaças do mundo exterior. Para a mulher esta é uma Lua fértil, mas se estiver ‘aflita’ pode indicar problemas com os filhos e com sua própria mãe. A constância e a firmeza de caráter podem ser conseguidas com trabalhos manuais, especialmente aqueles ligados à terra, como a jardinagem, por exemplo.


Fico aliviada porque minha lua não tem nada de aflita, rs...

E uma coisa que eu não sabia, ou nunca tinha reparado, é que tenho três planetas em Touro e três em Libra... depois sobram um em Escorpião e um em Sagitário... fiquei com vontade de entender melhor o que isso significa...

Posição dos planetas:
Sol em Touro
Lua em Câncer

Mercúrio em Touro
Vênus em Touro
Marte em Touro
Júpiter em Libra
Saturno em Libra
Urano em Escorpião
Netuno em Sagitário
Plutão em Libra

terça-feira, 17 de maio de 2011

I - Fevereiro de 2010

Até fevereiro de 2010 eu não tinha nenhum ânimo para encarar a maternidade. Ter filhos me parecia mais uma obrigação social (desagradável, diga-se de passagem), do que um projeto de vida. Isso às vésperas de completar 29 anos, uma idade na qual as pessoas perguntam com mais frequência sobre os planos de procriar e os companheiros de faixa etária estão embarcando nessa. Não tem como não se questionar sobre querer ou não ser mãe.

E por essa época eu brinco que estava até fazendo listas de prós e contras para, sabe-se lá quando, fechar a contagem, somar os pontos e tomar a decisão. Eis então que vou ao dentista e tudo muda (!). Ok, não era um dentista convencional, mas sim adepto da Biocibernética Bucal, o meu querido Dr. Edison da Cunha Swain, falecido pouco mais de um ano depois desse nosso primeiro encontro.

Nessa conversa, que durou umas três horas, falamos sobre muitas coisas, mas tudo girando em torno das estruturas humanas, pessoais e coletivas, dos papeis do homem e da mulher, de como seria possível buscar um aperfeiçoamento para nos tornarmos de fato seres humanos. Não lembro exatamente o ponto que pegou a parte da maternidade, mas ele sempre enalteceu essa relação, mesmo porque trabalhava bastante com gestantes, mães e crianças, atuando nos partos, inclusive.

Para resumir a história, segue abaixo a transcrição de parte do e-mail que mandei pra ele logo depois da consulta:

Conversamos bastante na terça-feira e desde então suas palavras estão ecoando na minha cabeça! Gostei muito de tudo que ouvi, me pareceu muito coerente e me deu bastante esperança no mundo, pois, admito, eu andava cada vez mais descrente da humanidade; descrença esta que me desencorajava profundamente de ter filhos, por exemplo... pois bem, o senhor foi a primeira pessoa que me fez sentir que é possível ser mãe... que é possível conceber, gerar, parir e educar um filho no meio desse caos todo e que, mais importante que tudo isso, essa pode ser uma via para atuar positivamente no planeta.

Acho que essas palavras explicam o porquê do marco "fevereiro de 2010". Até essa data eu era uma pessoa, eu pensava de um jeito, eu sentia de um jeito e depois desse dia muita coisa mudou e foi mudando mais e cada vez mais rápido.

Você deve imaginar a força que teve esse encontro. Antes dessa conversa eu realmente não via como ter um filho. Eu simplesmente não entendia como as pessoas ficavam colocando gente no mundo, parecia que ninguém pensava no assunto e só respondia a um instinto biológico. Porque quando eu parava pra pensar em "o que é ter um filho", essa ideia não me animava e até me apavorava. Isso à luz do que eu via "por aí".

Até que uma pessoa me diz que o que eu vejo "por aí" realmente não é a melhor forma (disso eu já sabia e essa afirmação vale pra quase tudo...) e que é sim possível optar por outros caminhos, que até então eu não fazia a mínima ideia de que existiam. Na verdade não é nem questão de optar por outros caminhos, mas de encarar a experiência com a profundidade e a importância que ela merece e como isso pode ser transformador e benéfico para todos, da mesma forma como é prejudicial a todos a forma com que vem sendo feita... e esse é o começo da história!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

II - Carol, Marcelo & Clara

Com o Dr. Edison eu tive uma experiência pontual e teórica, enquanto que com essa adorável família a experiência tem sido diluída e prática.

Em fevereiro de 2010 a Carol já estava grávida, mas isso ainda não contribuía para que eu sentisse vontade de estar também. Depois que comecei a encarar a maternidade com outros olhos, aí sim a experiência deles foi me interessando mais, fazendo inclusive com que eu estivesse presente no momento do parto.

Eu já disse que ver a Clara nascer foi revelador e transformador. O primeiro banho dela, de balde, foi a coisa mais linda que vi até hoje. Mais uma vez eu sentia que é possível.

Acompanhar o processo deles, de gravidez, parto e cada momento do desenrolar do crescimento da Clara, com certeza me economizou muito tempo e sofrimento. Tempo porque tudo já está chegando "mastigado" pra mim; por mais que eu vá procurar o meu próprio caminho, a direção é a mesma e assim tudo fica mais fácil. E digo que economizou sofrimento porque o aprendizado frequentemente é sofrido, a menos que aprendamos pela experiência do outro.

Graças à Clara agora eu sei o que é um parto humanizado, sei a importância que isso tem para a mãe e para o bebê; sei que existem fraldas de pano super modernas e práticas (e caras também, rs...); sei que faz bem para todos - mãe, pai e bebê - a cama compartilhada, ou seja, todo mundo dormindo junto no aconchego e segurança que a família proporciona, ao invés de um frio e solitário berço cheio de grades e os intermináveis "deita e levanta" da madrugada; sei que não precisa também ficar perguntando "até quando", pois isso simplesmente não importa; sei que o bebê deve mamar sempre que tiver vontade e que o melhor lugar para ele estar é o colo da mãe (ou outro, na ausência desse).

E foi também graças à Clara que eu conheci a Laura Gutman e seu arrebatador livro "A maternidade e o encontro com a própria sombra". Falo já sobre ele ;)

Queridos, obrigada por esse privilégio de aprender de forma tão gostosa com vocês!

domingo, 15 de maio de 2011

III - Então vamos?

Aqui entra mais um marco nessa história, que é o livro "A maternidade e o encontro com a própria sombra" (Laura Gutman). Se até agora eu estava vendo que é possível, com esse livro me bateu um sentimento de "ok, vamos lá".

O livro apresenta a maternidade como uma forma extremamente intensa de autoconhecimento. Segundo a autora, a sombra da mãe é expressa no filho, portanto tudo o que o filho manifesta de "incômodo" é uma materialização de coisas mal resolvidas na mãe. A mãe, por sua vez, pode optar por tentar entender a origem daquilo, o que não é fácil, pois se estava relegada à sombra é algo que não queremos lidar e que muitas vezes nem conseguimos acessar sozinhas; ou então pode ir optando por medidas paliativas, por culpar outras pessoas (o marido, a sogra, a própria mãe, o próprio bebê) e aí vai empurrando o problema, que vai se tornando cada vez mais grave, voltando a surgir em outros momentos do desenvolvimento da criança e do adolescente, culminando em adultos emocionalmente frágeis, que vão reproduzir esse padrão e aí, bem, e aí você sabe o que acontece, vide mundo.

Da forma como é apresentada, ou melhor, da forma como eu estou entendendo, a maternidade pode representar um expressivo salto evolutivo. Uma oportunidade única de mexer naquele porão embolorado, jogar as tralhas fora, abrir as janelas e deixar o sol entrar. A tarefa realmente não deve ser fácil... só de pensar meu nariz já coça e busco os lenços de papel. Mas uma bela faxina nunca me assustou e o resultado compensa os espirros e calos nas mãos.

Antes, quando eu não queria ter filhos, eu dizia que essa era uma posição totalmente egoísta, porque eu não queria sair da minha zona de conforto com relação aos rumos da minha vida, tanto cotidianos quanto de longo prazo. Eu estava muito bem com a minha independência e não queria "sarna pra me coçar".

Agora, que a coisa me foi apresentada de outra forma, com um caráter desafiador inclusive, continuo me achando em uma posição egoísta, mesmo que oposta à anterior... é que a vontade de ter filhos, no meu caso, tem a ver com a ideia de aprimorar o meu desenvolvimento enquanto ser humano, enquanto ser humana. Mas vendo assim não considero esse egoísmo negativo (nem sei se egoísmo é o termo correto), pois tudo o que eu quero é me tornar uma pessoa melhor. Não para mim, mas para o mundo. Eu já disse isso: eu quero que o mundo seja um lugar cada vez melhor e a primeira forma de viabilizar isso é que cada pessoa torne-se melhor.

sábado, 14 de maio de 2011

IV - Juntando as ferramentas

A minha personalidade exige que o planejamento esteja presente em minha vida. Na faculdade de Engenharia Florestal aprendi com o meu Professor João Batista que quem começa contando, começa errando. Explico: ele ensina métodos quantitativos e com essa frase ele quer dizer que quem simplesmente entra em uma floresta e começa a contar e medir árvores, já começou errando. Antes disso é necessário saber por que você está contando e como você vai contar, porque se você só fizer essas perguntas depois é muito provável que tenha que voltar e contar/medir tudo de novo. Isso não se aplica só para o trabalho de medir árvores...

Usando a metáfora do texto anterior, estou me preparando para uma faxina. Então preciso juntar os produtos de limpeza, os panos, os baldes, rodos, vassouras, aspirador de pó, sacolas para o lixo. Preciso checar se tem água perto. Preciso deixar alguma comida pronta pra não ter que parar tudo no meio e ir fazer o almoço (ou será que alguém vai fazer almoço pra mim?). E quando estiver tudo preparado, ainda vou colocar uma empolgante play list! Aí sim, entro no cômodo.

A faxina será tanto melhor quanto o número de faxinas que eu já tenha visto e/ou realizado, mesmo que tenha sido só como espectadora ou aprendiz.

Isso quer dizer que não vou esquecer nenhum item? Isso quer dizer que não vai acabar a luz ou a água no meio da faxina? Isso quer dizer que vou terminar na hora que eu tinha previsto? Não, não mesmo. Só quem é muito tolo acha que um bom planejamento elimina imprevistos.

Um bom planejamento deve te dar suporte para lidar com os imprevistos.

E cá estou eu, reunindo os saberes, preparando o terreno.

Outro sentimento que tive foi como se estivesse estudando pro vestibular. Eu realmente tenho me sentido assim, porque estou curtindo essas novas descobertas e sempre gostei de estudar. A fase pré vestibular foi muito legal! Eu não tinha pressão nenhuma e estaria tudo bem se passasse ou se não passasse, pois tinha todo o tempo do mundo para tentar.

Ao pensar assim imaginei que a gravidez seria o vestibular, as provas; o parto seria como o dia que você vai conferir a lista de chamada pra ver se passou; e o desenvolver extra uterino do filho uma faculdade, que pode evoluir para um mestrado, doutorado, pós doutorado, ou patinar em DPs até ser jubilado ou um pouco de cada, o que é mais provável.

Além disso, também acho que se aplica outra comparação: se você achava que estava aprendendo antes da faculdade, depois que entra você vê um mundo totalmente novo se descortinar e frequentemente seu pensamento anterior é desconstruído frente a novos conceitos e novos pensadores.

A data do vestibular não está marcada e fico imaginando o momento que eu direi "estou pronta". Sei que nunca estamos prontos, pois sempre há alguma coisa a lapidar, e esse pode ser um risco... o perfeccionismo pode fazer com que se perca o trem. E é também por isso que tenho olhado pra dentro; que tenho tentado ouvir os sons internos, pois são eles que dirão que chegou a hora.